• Jornal de Negócios do Sebrae-SP
Atualizado em
Thiago Muniz e o sogro Calimério Cintra, da FranPalhaço: nicho deu origem à empresa (Foto: Gisele Tamamar)

Thiago Muniz e o sogro Calimério Cintra, da FranPalhaço: nicho deu origem à empresa (Foto: Gisele Tamamar)

Nas últimas décadas, a produção de calçados foi uma das mais fortes bases de atividade industrial do interior de São Paulo. Em pelo menos três grandes polos calçadistas (Franca, Birigui e Jaú), fábricas de todos os portes empregavam milhares de pessoas e desenvolviam produtos de qualidade, com grande abertura no mercado internacional. Hoje, no entanto, o cenário não é mais tão animador.

A crise econômica e a concorrência de mercadorias mais baratas no exterior contribuíram para derrubar as vendas e, consequentemente, diminuir a produção e os postos de trabalho nas indústrias do setor. De acordo com a Abicalçados, associação que reúne as empresas do setor, a perspectiva para 2016 é negativa no mercado doméstico. No primeiro mês do ano, a queda nas vendas foi de 13% em relação ao mesmo período de 2015. No ano passado, o setor faturou cerca de R$ 26 bilhões.

Para as micro e pequenas empresas do setor, que correspondem à maior parte das 7,9 mil indústrias de calçado do País, a saída para sobreviver em um cenário difícil é estudar o mercado, conhecer seu público-alvo e tentar encontrar possibilidades de inovação. “A questão hoje é entender o consumidor e tentar encontrar um nicho de mercado”, afirma o consultor do Sebrae-SP Maurício Buffa, do escritório regional de Franca.

É esse o caso de um empreendedor que encontrou um mercado inusitado ao investir na produção de sapatos para palhaços em Franca. Formado em educação física, em 2007 Thiago Marcos Muniz morava em Guarulhos e encomendou ao sogro, sapateiro na cidade do interior, um calçado especial para um tio que fazia visitas vestido de palhaço em hospitais. O produto fez sucesso com outros palhaços e novas encomendas começaram a aparecer. Muniz, então, passou a adicionar outros palhaços no Orkut, rede social de sucesso na época, e divulgar a produção. “Havia muita desconfiança com o e-commerce na época. Foram uns três anos até termos um nome no mercado”, lembra.

O divisor de águas aconteceu há pouco mais de cinco anos, quando Muniz resolveu abrir por conta própria uma fábrica para produzir os calçados especiais em Franca, a FranPalhaço. Fez um curso de modelista e levou o sogro, Calimério Antunes Cintra, para trabalhar com ele. Hoje estuda em um curso técnico de design de sapatos e vende de 50 a 80 pares por mês, que saem por valores em torno de R$ 170 a R$ 300, quase sempre sob encomenda via internet. “Com a crise, as vendas complicaram um pouco. Hoje estamos investindo em calçados em tamanho grande como complemento, fazemos até o número 50”, conta.

Soluções simples
Mas nem sempre é preciso descobrir um nicho inexplorado para se destacar em um mercado concorrido.

Muitas vezes, a resposta para os dilemas do empreendedor pode estar diante dele. “É hora de investir em design e inovação, sair um pouco do processo de produção”, afirma Juliana Sanches Farias, consultora do Sebrae-SP do ER de Araçatuba e que acompanha de perto o polo calçadista de Birigui. Ela cita o caso de fabricantes de componentes para o setor que resolveram partir para o produto final, como uma empresa de solados que resolveu produzir chinelos e sandálias – afinal, o material que saía da fábrica já era um produto quase pronto. “Orienta mos essa empresa a investir em qualidade, com apelo para o conforto dos calçados. De fornecedora, ela passou a ser concorrente”, conta.

Em Birigui, foram fechados entre 4 mil e 5 mil postos de trabalho na indústria calçadista nos últimos dois anos. Atualmente, as empresas do setor empregam cerca de 18 mil pessoas, e a indústria local passou a ter uma maior variedade de produtos – o polo sempre se baseou predominantemente em calçados infantis, mas hoje mais de um quarto da produção é de calçados femininos adultos.

A empresária Gisele Pereira Souza Pinto, dona da Araçá Baby, que produz calçados infantis, contava com 35 funcionários há um ano – hoje tem 18. Mesmo na crise, encontrou uma maneira de reduzir os efeitos da queda nas vendas. “Além de estarmos ‘virando nos 30’ para nos mantermos, voltamos a investir em acessórios. Hoje eles são mais elaborados e seguem um estilo para acompanhar os calçados”, explica.

A empresa de Gisele já havia produzido acessórios anteriormente, mas o portfólio não incluía os sapatinhos para bebês e muito menos produtos “combinando”. Mãe de três filhos, ela lembra que na época em que eles eram bebês não havia acessórios que combinassem com os sapatos. “Hoje, os calçados têm espaço em uma loja de roupas infantis”, diz.

Para ficar atenta às tendências, Gisele pesquisa em redes sociais e participa de feiras do setor. “Como empresária tenho de ser otimista, acho que até meados de 2017 a economia começa a se recuperar”, aposta.