A farta entrada de luz solar na sala com pé-direito duplo chega a emocionar a professora de educação física Adriana Campello, 40 anos. Antes, ela morava em um apartamento com pouca iluminação natural e sonhava com um loft, como o de 130 m² que comprou em 2010, quando estava em construção. Com pegada ecológica, o prédio na Vila Madalena, em São Paulo, é um projeto do escritório Triptyque selecionado para a Bienal de Arquitetura de Veneza. A estrutura de concreto e vigas de aço criou grandes vãos livres que permitiram as plantas flexíveis dos apartamentos. “Por isso a construtora pôde fazer as mudanças que eu pedi antes da entrega”, diz Adriana.
As alterações aconteceram de acordo com o projeto dos arquitetos Luis Fernando Rocco e Fernando Vidal. “O maior desafio foi trocar a localização do mezanino, sem modificar a área do apartamento, para haver o pé-direito duplo desde a entrada”, explica Rocco. “Tudo começou porque eu queria uma estante que ocupasse toda a altura da sala”, conta Adriana. Isso só era possível em uma parede sem janelas. Na planta original, a única nessa situação tinha o mezanino, que rebaixava o espaço desde a porta de entrada até a metade do pavimento inferior.
A solução foi construir outra laje no sentido do comprimento. Sob o mezanino, os arquitetos colocaram a lavanderia, o lavabo e a cozinha, que é separada da sala de jantar pela bancada. Se for necessário, o espaço é fechado por um painel deslizante de ipê-peroba. Para abrir a cozinha, a enorme porta se recolhe atrás do móvel da TV e fica camuflada no volume com a área de serviço, que é revestido da mesma madeira. Em nome da unidade, o ipê-peroba está ainda nas portas pivotantes que integram o mezanino ou dão privacidade à sala.
Toda a marcenaria, que inclui a estante da sala, tem desenho dos arquitetos. No mezanino, eles criaram uma longa bancada de gesso acartonado, com armário e função de guarda-corpo, que se estende do quarto até o banheiro, passando pelo closet. Com tampo revestido de cimentício, possui fendas para encaixar as portas de correr que separam cada ambiente. Para contrastar com a madeira, o cimento dá acabamento também no piso do pavimento inferior. No mezanino, a moradora escolheu o assoalho de cumaru.
Mas a estrela do loft, depois da estante, é a escada. Como tem estrutura metálica e guarda-corpo de vidro, ela não pesa na sala. Instalada junto à estante, facilita o acesso aos nichos e às prateleiras altas, próximas da porta do quarto. “Eu quis que fosse leve e transparente para poder ver o que está na estante”, diz Adriana, que coleciona livros e peças de design. Para proteger tudo do sol que entra pelas diversas e grandes janelas – também responsáveis pela ventilação cruzada –, ela colocou muitas cortinas. “Mas, quando estou em casa com os amigos, gosto de deixar tudo aberto.”