• Texto Carol Scolforo | Produção Tiago Cappi | Fotos Marco Antonio
Atualizado em
trancoso (Foto: Marco Antonio)

Sala de estar | As almofadas de algodão, em diferentes texturas, dão leveza visual ao ambiente, que tem luminária de talisca de dendê e mesa de centro, ambas feitas pelo artesão William Rocha (Foto: Marco Antonio)

O samba, o mar, a mágica cidade de Trancoso, na Bahia. Ali, mais precisamente no bairro do Quadrado, vivia Glória, mulher de abraço farto e desejos simples. Uma figura ilustre que, aos domingos, cozinhava uma maravilhosa feijoada e abria as portas do quintal de casa a quem viesse pelo perfume da comida, sem cobrar nada por isso. Parteira, deu à luz 18 filhos de parto normal. Outros incontáveis nasceram do coração, porque gostava de gente. Em busca de sua energia, os turistas vinham todos os anos. “Ela era mais que acolhedora”, conta Ariana Teixeira, uma das filhas.

Assim se entende o branco que toma o olhar de quem entra na casa que Glória deixou de habitar há três anos, quando também acabou a feijoada. Toda a decoração brotou de sentimentos de família, da sinceridade de hábitos e gostos da mãe, que a deixou para as duas atuais moradoras, as filhas Ariana e Nelly Teixeira, e para o pai das duas. O branco impulsiona a sensação de serenidade em quem visita o lugar. “Todos que vêm aqui dizem isso”, conta Nelly, artista plástica (e também empresária, cozinheira e mãe de Serena Lua e Aurora). Nos ambientes, só há elementos garimpados pela cidade ou feitos pelas moradoras, como as almofadas e uma trabalhosa colcha de fuxico.

A casa tem, somados, mais ou menos 500 anos, pelas contas das moradoras. Isso porque foi reconstruída inúmeras vezes, sempre seguindo a arquitetura original. “Antigamente, não era chique morar no Quadrado. As famílias vinham da roça apenas em épocas de festas e erguiam suas moradas. Depois, desmanchavam e refaziam quando voltavam. Nosso avô fazia assim também”, lembra Nelly. Hoje tombado pelo patrimônio histórico, o imóvel de 1 mil m2, cinco quartos, duas salas e um quintal imenso, assim como qualquer terreno lá, vale acima de 1 milhão de reais.

O valor se explica pelo fervor de Trancoso, mas também por surpresinhas que a cidade guarda. Uma delas é que todo domingo, às 14 horas, você pode sentir o mesmo aroma da famosa feijoada de Glória. Ele se espalha novamente pelo quintal, com caipirinhas de frutas, enquanto pequenos saguis fazem a festa nas árvores. Tudo graças a Ariana, que, depois de morar em São Paulo, sentiu que era hora de voltar e resgatar a tradição deixada pela mãe. Também abriu com a irmã um café, uma loja de artes e aluga um dos quartos da casa para temporadas.

Os turistas, que andavam sumidos, voltaram. Dizem sentir o afeto de dona Glória. “A melhor lembrança que temos dela é a gargalhada esculhambada, alta, aberta. Temos muito orgulho de nossa mãe, e não nos deixamos ficar tristes por ela ter partido. Ao contrário, estamos sempre alegres para que saibam quanto ela era especial”, finaliza Nelly.

Fachada | No portão da casinha, as moradoras Ariana e Nelly Teixeira. O fuxico da porta de entrada, feito por elas, emoldura a fachada verde kiwi Novacor, da Sherwin-Williams (Foto: Marco Antonio)

Fachada | No portão da casinha, as moradoras Ariana e Nelly Teixeira. O fuxico da porta de entrada, feito por elas, emoldura a fachada verde kiwi Novacor, da Sherwin-Williams (Foto: Marco Antonio)

Varanda | Na área, os sofás de alvenaria, o teto e o piso foram pintados de branco. As cortinas e as almofadas de algodão foram feitas por Nelly. O colorido fica por conta do verde das bananeiras (Foto: Marco Antonio)

Varanda | Na área, os sofás de alvenaria, o teto e o piso foram pintados de branco. As cortinas e as almofadas de algodão foram feitas por Nelly. O colorido fica por conta do verde das bananeiras (Foto: Marco Antonio)

Corredor | O quadro de Carmen Miranda colore a passagem.

Corredor | O quadro de Carmen Miranda colore a passagem. "Queríamos algo bem brasileiro, e ela traz esta alegria forte, embora não seja do Brasil", conta Nelly, autora da obra, que mistura pintura e colagem (Foto: Marco Antonio)

Quarto de hóspedes | O único cômodo [intimo disponível para receber turistas tem mosqueteiro feito pela artesã Miralva e colcha de fuxico produzida por Nelly (Foto: Marco Antonio)

Quarto de hóspedes | O único cômodo [intimo disponível para receber turistas tem mosquiteiro feito pela artesã Miralva e colcha de fuxico produzida por Nelly (Foto: Marco Antonio)

Quintal | Palco das feijoadas de domingo, o espaço tem bangalô e mesas de madeira em meio ao verde do entorno (Foto: Marco Antonio)

Quintal | Palco das feijoadas de domingo, o espaço tem bangalô e mesas de madeira em meio ao verde do entorno (Foto: Marco Antonio)

Em família | Nelly, de amarelo, conta com a ajuda da filha Serena Lua. A produção da feijoada também tem a mão de Baiana, outra filha de Glória. À frente, Ariana completa o ritual catando feijões (Foto: Marco Antonio)

Em família | Nelly, de amarelo, conta com a ajuda da filha Serena Lua. A produção da feijoada também tem a mão de Baiana, outra filha de Glória. À frente, Ariana completa o ritual catando feijões (Foto: Marco Antonio)

Altar | Encravada no tronco da jaqueira, a padroeira Nossa Senhora Aparecida lembra a devoção de Dona Glória (Foto: Marco Antonio)

Altar | Encravada no tronco da jaqueira, a padroeira Nossa Senhora Aparecida lembra a devoção de Dona Glória (Foto: Marco Antonio)