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Falha na transferência de imunidade passiva? Alimente bem e mantenha a higiene

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E ANA PAULA DA SILVA

CARLA BITTAR

EM 28/05/2018

7 MIN DE LEITURA

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A saúde de bezerros leiteiros recém-nascidos tem efeito importante tanto no desempenho durante a fase de aleitamento quanto na produção futura de leite. Um fator amplamente discutido que influencia diretamente na saúde dos bezerros é o fornecimento de colostro de qualidade, em quantidade suficiente e em tempo adequado para que ocorra a transferência de imunidade passiva.

Quando a quantidade do colostro materno ou qualidade é inadequada devido aos baixos níveis de imunoglobulina G (IgG) ou pela presença de patógenos, podem ser utilizados suplementos ou substituto de colostro. Tais produtos variam em fonte de IgG (plasma, colostro), composição de nutrientes e a capacidade do bezerro para absorver IgG do produto. Diante disso, a hipótese da pesquisa conduzida por Quigley et al. (2017) era que a imunidade passiva como resultado da ingestão de diferentes doses de substituto de colostro e a oferta de nutrientes através de diferentes taxas dietas líquidas e higiene das baias não afetaria o desempenho.

Para a pesquisa, foram utilizados 96 bezerros recém-nascidos da raça Holandesa. Esses animais foram divididos em 2 estudos, sendo utilizados 48 animais para cada estudo. Os bezerros foram distribuídos aleatoriamente  em dois tratamentos de substituto de colostro (Genesis 150, Provimi, Brookville, OH). No tratamento C150 os bezerros receberam 150 gramas de substituto de colostro e no tratamento  C450 os bezerros receberam 450 gramas de substituto de colostro. O substituto de colostro de ambos os tratamentos foi fornecido aproximadamente 1, 6 e 12 horas de idade. O substituto de colostro continha 30% de IgG derivado de colostro bovino. Vinte e quatro horas após o nascimento os bezerros foram transferidos para instalações experimentais onde foram realizados dois experimentos.

Experimento 1: Na chegada da unidade experimental os bezerros foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos para receber diferentes taxas de sucedâneo. O grupo MS (taxa de sucedâneo moderada) recebeu 680 gramas/dia de sucedâneo até os 42 dias de vida e - a partir do 43º - 340 gramas/dia de sucedâneo por sete dias. Já o grupo AS (alta taxa de sucedâneo) recebeu 1,0 Kg/ dia de sucedâneo nos primeiros sete dias de vida, posteriormente até os 37 dias de vida receberam 1,36 Kg/dia e após o 37° dia os bezerros do grupo AS receberam 680 gramas/dia de sucedâneo por mais sete dias. A diluição do sucedâneo foi de 13% e 15% de sólidos para MS e AS respectivamente e dividas em duas refeições para os dois grupos.

Experimento 2: Os bezerros foram divididos em dois tratamentos, no tratamento BL (baia limpa) os bezerros foram alojados em baia com cama de palha limpa e no tratamento CS (cama suja) os bezerros foram alojados em baias que continham cama de palha já utilizada. Nesse experimento os bezerros receberam 680g/d de sucedâneo diluído para 13% de sólidos durante 39 dias, divididos em duas refeições iguais, e após o 39º dia receberam apenas uma refeição durante 3 dias.

Para os dois experimentos foram realizadas coletas de sangue para avaliar a transferência de imunidade passiva, onde foi utilizado refratômetro ótico e uma amostra de soro foi congelada (-20° C) para as análises de IgG por imunodifusão radial. No experimento 2, amostras de sangue foram coletadas semanalmente para determinação de proteína total sérica e IgG. Os bezerros foram pesados na chegada e cada 7 dias até o final de cada experimento (56º dia) e a largura da garupa foi aferida a cada 14 dias. Também foi avaliado a consistência das fezes, utilizando uma escala de 1 a 5 (1 = normal, consistência espessa; 2 = normal, mas menos espesso; 3 = anormal fluido, mas não líquida; 4 = líquida; 5 = líquida com coloração anormal). Os dados foram analisados usando o procedimento MIXED no SAS (versão 9, SAS Institute Inc., Cary, NC).

Como resultado da transferência de imunidade passiva a Tabela 1 mostra que os bezerros que receberam maior quantidade de substituto (C450) absorveram mais IgG.

Tabela 1. Proteína total (PT) sérica, IgG sérica, eficiência aparente de absorção (EAA) e porcentagem de bezerros com falha de transferência passiva (FTIP) em bezerros alimentados com 150 (C150) ou 450 (C450) g de IgG nas primeiras 24 h nos experimentos 1 e 2.

A proteína total sérica foi menor para ambos os tratamentos no Experimento 2, embora as concentrações de IgG não tenham sido afetadas pelo experimento. Todos os bezerros que receberam o substituto de colostro C150 foram diagnosticados com falha na transferência de imunidade passiva (FTIP), enquanto que 21% dos bezerros (n = 5) alimentados com C450 no Experimento 1 e nenhum bezerro no Experimento 2 foi diagnosticado com FTP.

A PT sérica foi afetada tanto pelo tratamento quanto pelo experimento. Os bezerros que receberam o tratamento C150 apresentaram menor PT sérica em comparação com bezerros alimentados com C450, o que é consistente devido a maiores ingestões de proteína e IgG. Contudo, PT sérica mais baixa no Experimento 2 foi inesperada, sendo sugerido pelos autores um efeito da diferença no ambiente durante os dois experimentos.

No experimento 1, os bezerros alimentados com AS apresentaram maior peso corporal final (Figura 1), largura da garupa e GPD e tenderam a ter maiores alterações de escores fecais e mais dias doentes do que os bezerros que receberam MS, além de apresentarem menor consumo de concentrado inicial.

Figura 1. Peso corporal de bezerros alimentados com taxa moderada de sucedaneo (MS) ou alta (AS) e colostrados com diferente doses de substituto de colostro  com 150 (C150) ou 450 (C450) g de IgG durante as primeiras 24 horas de vida no Experimento 1.

Nas figuras 2 (IgG sérica) e 3 (PT sérica) é possível observar que as variáveis foram afetadas por uma interação entre tratamento e semana.

Figura 2. Concentração sérica de IgG de  bezerros alimentados com 150 (C150) ou 450 (C450) g de IgG nas 3 primeiras mamadas após o nascimento no Experimento 2.

Figura 3. Proteína total (PT) sérica em bezerros alimentados com 150 (C150) ou 450 (C450) g de IgG nas 3 primeiras mamadas após o nascimento, Experimento 2.

A Tabela 2 mostra os efeitos do alojamento dos animais em baias limpas (BL) ou sujas (BS). As alterações na concentração de IgG diferiram significativamente pelo tratamento do substituto colostro sem efeito da limpeza da baia. A IgG sérica nos bezerros alimentados com C450 atingiu sua concentração mais baixa com três semanas; posteriormente, as concentrações aumentaram gradualmente até o final do estudo com oito semanas. Por outro lado, a IgG sérica em bezerros alimentados com C150 apresentou pouca variação da semana zero a 4º semana, cerca de 5 g de IgG/L de soro. A partir da semana 4, as concentrações também aumentaram gradualmente até a oitava semana.  Na 7ª semana, houve pouca variação entre os dois grupos, sugerindo que todos os bezerros produziam anticorpo devido ao desenvolvimento do sistema imune ativo.

Os bezerros alimentados com C450 apresentaram menos dias com escores fecais anormais e tenderam a ter menos dias em tratamentos com medicamentos quando comparados com bezerros alimentados com C150. Os animais alojados em BS tenderam a ter GPD mais baixas em comparação com bezerros alojados em BL.

Tabela 2. Desempenho de bezerros alimentados com 150 (C150) ou 450 (C450) g de IgG nas primeiras 24 h e alojados em baias com cama limpa (BL) ou sujas (BS).

Os dados deste trabalho sugerem que as menores concentrações de IgG em bezerros que consumiram menos colostro podem não impactar tanto o crescimento dos animais, embora os bezerros que receberam mais substitutos (C450) tenham consumido mais concentrado no experimento 1 e tenham tido menos diarreia no experimento 2. Os autores concluem que tanto a tranferência de imunidade passiva quanto o manejo devem ser considerados ao avaliar a suscetibilidade de bezerros à doença.

Referências bibliográficas

Quigley, J.D.; HillL, T.M.; Deikun, L.; Schlotterbeck, R.L. Effects of amount of colostrum replacer, amount of milk replacer, and housing cleanliness on health, growth, and intake of Holstein calves to 8 weeks of age.  J. Dairy Sci., 100: 9177-9185.

Comentários

É muito comum o questionamento dos produtores sobre o que fazer caso a bezerra não tenha adequada transferência de imunidade passiva. Costumo iniciar a resposta com uma brincadeira: “Comece a rezar!”. Infelizmente, uma vez que o período de máxima eficiência de absorção de imunoglobulinas ocorre nas primeiras 6h de vida e que por volta de 20h esta não ocorre mais, não há muito o que fazer para mudar esta situação. No entanto, muito embora as taxas de mortalidade de bezerros com FTIP sejam bastante altas, alguns sobrevivem e podem até apresentar desempenho adequado. Como mostrou o trabalho, fornecer maiores quantidades de nutrientes, neste caso através do maior fornecimento de sucedâneo, além de alojar os animais em condições adequadas de higiene, reduziu o impacto da FTIP no desempenho destes animais. A adequada transferência de imunidade passiva ainda é hoje um dos maiores gargalos nos sistemas de criação. Os treinamentos de tratadores e técnicos consultores têm focado no manejo para a colostragem considerando o tripé: tempo para fornecimento, qualidade do colostro e volume fornecido. Ainda assim, as falhas são comuns e os animais têm maior ocorrência de doenças e menor desempenho. Deve-se forcar nas primeiras horas de vida do animal, mas, em havendo falhas, é importante investir mais na nutrição e no manejo sanitário dos animais. Sempre lembrando que prevenir é melhor que remediar.

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

ANA PAULA DA SILVA

Mestranda em Ciência Animal e Pastagens, ESALQ/USP

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