• Pedro Burgos
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Este ano promete ser de grandes debates. Copa do Mundo e eleições — para ficar nos mais manjados — renderão milhões de opiniões, que levarão a curtidas, compartilhamentos e, inevitavelmente, a desentendimentos na caixa de comentários. É verdade que as redes sociais são a nova praça pública, o bar e a balada ao mesmo tempo. Mas há razões para sempre nos arrependermos de entrar em discussões no Reino de Zuckerberg.

A primeira é uma limitação do meio: textos e fotos não comunicam tudo. Lembre-se de um debate acalorado que você teve online com uma pessoa que pensa diferente e imagine a mesma discussão fora, em uma mesa de bar (com ambos ainda sóbrios). Quando estamos de frente para a pessoa, conseguimos decodificar a mensagem observando outros sinais: damos espaço para a réplica ao observar sobrancelhas arqueadas e, pelo riso no canto da boca, sabemos se o que estamos dizendo agrada ou não. No Facebook, todas essas nuances se perdem, mesmo com os emoticons, emojis e gifs animados. A mensagem é sempre truncada — basta ver o tanto de gente não entendendo textos irônicos recentemente.

Longe da multidão que observa nossos posts no facebook, somos mais honestos e claros (Foto: Nik Neves/ Editora Globo)

Longe da multidão que observa nossos posts no facebook, somos mais honestos e claros (Foto: Nik Neves/ Editora Globo)

A segunda questão é o calor dos holofotes. Quando escrevemos alguma opinião no nosso mural, estamos falando para centenas de pessoas — alguns amigos próximos, outros conhecidos que não vemos há anos. Isso traz um primeiro problema, de autocensura: calibramos a mensagem para não ofender. Mas sempre aparecerá alguém discordando e, de repente, dois amigos de diferentes círculos — um tio conservador e um amigo de faculdade bem de esquerda, talvez — acabam discutindo. O que fazer? Separar os grupos nas configurações é um caminho, mas é trabalhoso e imperfeito. Eu, quando discordo fortemente da opinião de alguém, mando mensagem particular ou e-mail. Mesmo que a conversa continue no teclado, aprendi que longe da multidão somos mais honestos e claros. Não é à toa que tanta gente foge do Facebook e vai para grupos privados do WhatsApp.

E por último, se uma opinião sua for mal interpretada ou ofender uma pessoa, o recém-desafeto pode esconder as suas atualizações do feed de notícias. Aí coisas que você realmente gostaria de anunciar para todo mundo, como a chegada de um filho, não terão o alcance desejado. Tudo porque você discordou de maneira mais veemente da convocação de algum jogador. Então, resista à tentação e pense bem em qual o foro adequado para cada assunto. Às vezes, a única opção sensata é encontrar os amigos para conversar ao vivo. E esse bug do Facebook é ótimo.

Pedro Burgos é jornalista, especialista em tecnologia e autor do livro Conecte-se ao que Importa – Um Manual para a Vida Digital Saudável (Ed. LeYa) (Foto: Luís Dourado/ Editora Globo)