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Na era da criatividade, emocionar clientes garante sustentação de sua empresa

Marco Roza

Colunista do UOL, em São Paulo

Domenico Demasi, no livro "A Emoção e a Regra" associa às etapas de desenvolvimento da produção humana às revoluções e ondas que influenciaram comportamentos e atitudes da humanidade.

A etapa rural coincidiu com a primeira onda. Apesar de ainda estar presente em nossa economia, foi substancialmente modernizada ao adotar disciplinas industriais e maquinários modernos, com impacto impressionante na produtividade.

A segunda onda, que ainda nos influencia, foi a industrial, com o maquinismo em alta, produção em série e sincronização dos movimentos dentro e fora do chão de fábrica. A disciplina que te submete e entristece, que tolhe seu potencial e sua participação na melhoria da riqueza de sua empresa, é filha legítima da era industrial.

E, o pior, é que ainda somos cúmplices desse regime industrial-militar, apesar de percebermos que as grandes batalhas agora são travadas dentro de um universo de 15 centímetros cúbicos. Que é o cérebro de cada um dos nossos potenciais clientes com todas as suas análises, emoções e imenso poder de decisão a favor ou contra nossos esforços de venda.

Você que me lê agora faz parte (tenha ou não consciência) da terceira onda, de acordo com Domenico Demasi, na qual se valoriza mais a cultura do que a estrutura. E o principal diferencial que confirmamos nosso sucesso profissional ou empreendedor é a criatividade.

Criatividade competitiva

Ou seja, você nasceu e tem a chance de fundar e cuidar de sua empresa numa época em que a criatividade o libera do controle e aprovação das elites rurais ou industriais. 

As barreiras que os grandes empreendedores do passado tinham que superar eram verdadeiros Himalaias perto do que temos que vencer hoje, usando apenas a energia de nossa criatividade.

O imenso problema que temos que enfrentar, contudo, é que ainda carregamos em nossos genes, a herança de mais de 300 anos de disciplinas rurais e industriais, o que muitas vezes travam nosso potencial criativo. Nos subtraindo a fé em nós mesmos e nos remetendo, a cada dificuldade, para a submissão aos controles das hierarquias industrial ou rural.

Ao balançarmos entre esses passados gerenciais, que mesmo presentes na economia, não alavancam nossos potenciais, e a possibilidade de nos alistar na terceira onda que aproveitaria nossa criatividade, deixamos, muitas vezes, escapar imensas oportunidades.

Potencial criativo

Existem milhões de manuais que tentam nos ensinar a ser criativos. Você pode ler todos, fazer mestrado, doutorado, MBA e se transformar numa enciclopédia ambulante em criatividade e ver seus concorrentes, que aprenderam a ser criativos arriscando suas economias, rindo e chorando com suas aventuras e desventuras, sem se preocupar com os manuais, bombando ano após ano.

Por quê?

Basta prestar atenção ao samba de Noel Rosa, "O Samba Não se Aprende no Colégio": "Ninguém aprende samba no colégio/Sambar é chorar de alegria/É sorrir de nostalgia/Dentro da melodia".

Se você quer ser empresário ou empresária que não chora ou sofre diante das adversidades, que não se emociona diante da frustração de seus clientes ou parceiros de negócios, que tem como principal característica a disciplina implacável de ganhar mais e mais dinheiro, pode até dar certo por um certo tempo.

Mas será logo, logo, superado por homens e mulheres que decidiram "chorar de alegria" ou "sorrir de nostalgia", e manter seus corações pulsando de acordo com a melodia que o mercado consumidor impõe.

Ser criativo, caso você aceite minhas rápidas provocações, é apostar radicalmente nas ondas emocionais ao seu redor. Na sua casa, na sua empresa, na sua loja. A moeda emocional se for captada por você, poderá sustentar e tornar lucrativa suas iniciativas criativas.

Mas sem marcar bobeira

Ser um empreendedor criativo não quer dizer que você será um tonto diante das oportunidades que cria. Porque você será o principal responsável pela condução do dia a dia de implementação dos acordos comerciais que estabelece. Nessas horas, você terá que ser firme, sem perder seu senso criativo, jamais.

Ser criativo é ter a coragem de validar cada acordo enquanto te emociona e lhe dá indicações de novas oportunidades. Se você começar a se viciar apenas nos pagamentos devidos, sem se preocupar muito com a satisfação plena do seu cliente, mesmo que ele ou ela não reclame, então começará a cavar sua própria cova.

Ser criativo é, principalmente, se abrir às influencias emocionais de seus mentores, amigos e profissionais de sua confiança. Você aprenderá, aos poucos, a conduzir sua empresa sem medo de se emocionar. De chorar de alegria, quando todos ao seu redor estiverem felizes com o resultado.

Nesta etapa, você confirmará Noel Rosa e talvez concordará comigo que a criatividade não se aprende no colégio. 

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