Vergonha: Rio 2016 já tem grito homofóbico da torcida brasileira

Em partidas na Arena Corinthians e no Mineirão, goleiras de seleções estrangeiras foram alvo de xingamentos

Publicado em 07/08/2016
Torcida usa gritos homofóbicos, como 'bicha', contra goleiras no futebol feminino na Olimpíada do Rio
Goleiras são alvo dos xingamentos. Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press

A Olimpíada do Rio mal começou e a homofobia já apareceu. E, claro, em um dos esportes mais homofóbicos do mundo, o futebol.

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Em três partidas do futebol feminino, no momento que as goleiras pegavam na bola, alguns torcedores - brasileiros, possivelmente - gritaram "bicha".

O ato foi considerado "ofensivo" pelo jornal australiano The Sidney Morning Herald, ao tratar os xingamentos recebidos pela arqueira de seu país, Lydia Williams, e pela canadense Stephanie Labbé, na partida Austrália x Canadá na Arena Corinthians, em São Paulo, na quarta-feira 3.

O técnico australiano, Alen Stajcic, disse à publicação que nem ele nem atletas entenderam no momento do que se tratava, mas sabiam que era algo ofensivo. "Não sei a história por trás disso, mas não soa agradável."

Na quinta-feira 4, a prática homofóbica continou no estádio paulistano, desta vez no jogo entre Canadá e Zimbábue. No Mineirão, em BH, na partida entre Estados Unidos e Nova Zelândia, os gritos de "bicha" se misturaram aos de "zika" para provocar a goleira norte-americana Hope Solo, que fez piada sobre o vírus antes de embarcar para o Brasil. 

A meio-campista norte-americana Megan Rapinoe, que é abertamente lésbica, afirmou ser "pessoalmente doloroso" ao jornal Los Angeles Times. "Creio que seja algo do comportamento coletivo que toma conta das pessoas um pouco", disse.

À nossa reportagem, o designer gráfico Fábio Andrade, de 22 anos, que estava no setor Laranja Inferior do Mineirão, disse que um grupo de torcedores puxou o gritos como "Maria, eu sei que você treme" e "Ooooh bicha". "Alguém no setor Vermelho teve a criatividade de mudar o 'bicha' para 'zika' e o restante da torcida acompanhou", contou Fábio.

O designer diz que outro "momento péssimo" foi quando um grupo no mesmo setor em que estava começou a gritar bem alto um nome de homem acompanhado por "viado". Ele diz que o torcedor que era alvo do xingamento, levantou-se e respondeu à altura. "Pelo menos, nesse momento, esse grupo sentiu-se constrangido e dali em diante não lembro de ter ouvido nada parecido vindo dali", relatou Fábio, que disse ainda ter ouvido comentários racistas e machistas de torcedores sobre as atletas.

A ação de cunho homofóbico de tentar diminuir o goleiro do time adversário teria começado com o México, com gritos de "puto" (o mesmo que "bicha" para eles) e levou o país, na Copa do Mundo de 2014, a ser alvo de um processo pela Fifa. O México acabou sendo absolvido. Times brasileiros "copiaram" a ideia.

A prática é tão ilógica que agora a torcida ofende goleiros (ou goleiras, no caso) até quando sua seleção não está em campo e ainda usam uma palavra que é específica para homens para xingar mulheres. 

A lei número 13.284, chamada Lei Geral da Olimpíada, é clara no veto a expressões discriminatórias e determina a retirada de torcedores que infringirem a norma. O Comitê Olímpico Internacional (COI) ainda não se pronunciou sobre o caso.


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