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Lucas de Castro Horta Parisi
A presente resenha tem como objetivo apresentar de maneira específica duas pesquisas sobre o
tema “Obesidade”. A primeira foi realizada em 2006 (publicada em 2008) e intitulada Vigilância
de Fatores de Risco para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico nas capitais dos 26 estados
brasileiros e no Distrito Federal, VIGITEL. A pesquisa VIGITEL 2006 tem como base importante o
que a OMS denominou por Doenças Crônicas não transmissíveis (DCNTs). Estimativas da OMS
“apontam que as DCNTs são responsáveis por 58,5% de todas as mortes ocorridas no mundo e
por 45,9% da carga global de doenças. No Brasil as DCNTs respondem por 62,8% do total das
mortes por causas conhecidas” (W.H.O 2002 apud Moura et al, 2008).
Na pesquisa realizada por Andréia Mendes dos Santos em 2003, chamada O excesso de peso
da família com obesidade infantil, vários fatores têm contribuído para que as crianças
permaneçam mais tempo dentro de casa. Em especial se incluem o aumento da violência (antes
desprivilegio apenas das cidades grandes), a necessidade de contribuir com a renda familiar, ou
a queda do poder aquisitivo e as novas situações familiares (descasamentos, novos casamentos,
Lucas de Castro é estudante de psicologia na Faculdade de Ciências Humanas da FUMEC-BH.
novos irmãos, meio-irmãos, lutos, etc.). Assim, torna-se mais incomum encontrá-las em
parques, nas brincadeiras de ruas, andando de bicicleta, entre outros (SANTOS, 2001 apud
Santos e Grossi, 2007).
Santos também sinaliza para um recurso utilizado pelos pais, que ela chamou de
“babás-eletrônicas”, ou seja, o uso indiscriminado e também exagerado por pais de
eletro-eletrônicos como a televisão, o videogame e o computador.
Este dado apontado por Santos caracteriza uma polaridade crucial: aos pais interessa que as
crianças se ocupem diante destes aparelhos eletrônicos, para que eles possam exercer suas
funções diárias e de trabalho; as empresas de marketing, por outro lado, imbuídas num sistema
cujo valor principal é o consumo, precisam que isto aconteça, a fim de gerarem novos
consumidores.
Segundo dados do Ibope (2006 apud Santos e Grossi 2007), as crianças e jovens brasileiros,
de até 17 anos, assistem em média a 3,5 horas de televisão por dia, ficando expostos a
aproximadamente 40 mil propagandas em um ano. Afora o sedentarismo, a questão em pauta se
instala na influência sobre a formação educacional destes jovens, principalmente pela fragilidade
de suas estruturas de personalidade, ainda em formação. (Santos e Grossi, 2007).
Para Santos (2003 apud Santos e Grossi 2007), o marketing voltado às crianças utiliza a
sedução como estratégia para o consumo de novos produtos que, muitas vezes, não estão nem
de acordo com a cultura da região.
Muitas vezes o consumo está ligado a emoções, mas não propriamente a uma necessidade. O
consumo, quando associado ao prazer, deixa um vazio sentimental, uma sensação de
insatisfação. Os apelos da mídia, muito bem desenvolvidos em termos técnicos para
determinadas marcas e produtos, contribuem para isso (GROSSI e SANTOS, 2005 apud Grossi e
Santos 2007).
Este índice de consumo por crianças, associado ao consumo dos pais, em supermercados, faz
com que vejamos em prateleiras de supermercados diversos muitos alimentos ricos em ferro,
que ajudam no crescimento, e com a tal frase: “livres de gorduras trans”. É o tempo das crianças
irem às compras.
Caminhando para uma conclusão: poderíamos dizer que a obesidade relacionada às crianças
tem sua origem parcialmente numa desestruturação familiar gerada pela sociedade de consumo
pós-industrial a qual, neste percurso de desacordo social e educacional, encontrou-se com as
indústrias produtoras de mídias como aliadas no caos. Infelizmente, tais indústrias não se
inserem promovendo o bem comum ou gerando algum tipo de conscientização social, mas tão
somente buscando seus interesses econômicos – os quais compõem hoje uma esfera autoritária
e perversa em nossa sociedade - e gerando um passivo social. Este sistema transforma crianças
em alvos de consumo e adolescentes em dependentes ansiosos e obesos, porque tem em sua
infelicidade o desejo de obter uma satisfação ainda que momentânea, no ato de comer.
Cabe aqui uma ponte com a idéia de esferas de soberania proposta por Abraham Kuyper, sua
reflexão crítica sobre a origem dos poderes, a governança de pessoas, etc. Há, definitivamente,
uma multiplicidade de sobreposições e de conflitos de esferas sociais na sociedade em que
vivemos; em especial temos o conflito gerado pelo fechamento da esfera econômica à influência
positiva de outras esferas (ética, justiça, linguagem, etc.) e ao seu domínio tirânico sobre essas
e outras esferas. É assim que em várias dessas esferas ou níveis da sociedade a esfera econômica
existe em contradição com os indivíduos que nela estão inseridos, gerando síndromes e
A grande questão em jogo é o vácuo deixado pelo espírito de época atual, que abre espaço
para muitos poderes que desejariam escravizar as pessoas. As diversas esferas de soberania, nas
quais o homem deveria exercer sua liberdade e glorificar a Deus estão hoje entregues aos deuses
seculares do Mercado e da Técnica. Elas sofrem assim uma falsificação de suas essências
respectivas, e hoje assistimos de perto às conseqüências desta falsificação.
Os dois estudos aqui discutidos constituem evidência empírica do tipo de violação das esferas
de soberania que o pensamento kuyperiano problematiza e combate, em sua busca pela
verdadeira paz social. E isso é o que apresentamos aqui: um alerta e um convite à cooperação na
obra redentora de Cristo, pela promoção de sua Soberania sobre todas as áreas da existência,
incluindo a vida pública, o mercado e a família, como o único caminho possível para uma
sociedade livre de tiranias.
Referências Bibliográficas
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