Política Lava-Jato

Mansão e outros bens de Cabral que vão a leilão são avaliados em R$ 12,5 milhões

Visita à casa de Mangaratiba revela predileções como as obras de Romero Britto e o livro ‘Flanando em Paris’
Interior da mansão de Cabral em Mangaratiba Foto: Marcia Foletto/O GLOBO
Interior da mansão de Cabral em Mangaratiba Foto: Marcia Foletto/O GLOBO

RIO — Na casa do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) e da ex-primeira-dama Adriana Ancelmo em Mangaratiba, no Sul Fluminense, as imagens sacras dividem espaço com obras do artista plástico Romero Britto, presentes em quase todos os cômodos. No corredor que leva às cinco suítes do imóvel — três delas com vista para o mar da Praia São Braz —, um quadro com o rosto de Adriana, pintado pelo pernambucano, fica em uma extremidade; na outra ponta, está a homenagem a Cabral. É o colorido das obras do artista que quebra o branco e os tons pastéis que predominam na casa.

O imóvel, ainda repleto de fotografias de família e outros objetos pessoais, vai a leilão no dia 3 de outubro. O lance mínimo é de R$ 8 milhões, valor pelo qual a casa com 462 metros quadrados de área construída foi avaliada pela Justiça. Contando a área externa, com duas piscinas, sauna e churrasqueira, são mil metros quadrados. Se não for arrematado, um segundo certame será realizado em 11 de outubro. Neste caso, o lance mínimo passa a ser de R$ 6,4 milhões — o equivalente a 80% do valor de avaliação.

Os sete bens de Cabral e Adriana a serem leiloados estão avaliados em R$ 12,5 milhões. O dinheiro será usado para ressarcir os cofres públicos. A decisão foi do juiz Marcelo Bretas, que entendeu que os bens poderiam se depreciar e perder valor. Na quarta-feira, ele condenou o ex-governador a 45 anos e 2 meses de prisão — a pena de Adriana é de 18 anos e 3 meses.

Um tour pela mansão revelou o quanto a família é fanática pelo Vasco da Gama e algumas preciosidades na biblioteca de Cabral. Em uma mesma pilha de livros, estavam as obras “Antologia da Maldade”, de Gustavo Franco e Fabio Giambiagi, “Estado de Crise”, de Zygmunt Bauman e Carlo Bordoni, e “Flanando em Paris”, de José Carlos Oliveira. O livro sobre a capital francesa traz à memória as constantes referências do colunista do GLOBO Jorge Bastos Moreno, morto em junho, que sempre ironizava a predileção do ex-governador por Paris.

Na cozinha, com fogão industrial, há três geladeiras. Uma delas é da Cervejaria Itaipava, do mesmo modelo visto em bares, e que remete às investigações da Lava-Jato que ligam a empresa a pagamentos de propina e doações ilegais para a campanha do ex-governador.

Quem arrematar a mansão vai levar a geladeira da Itaipava, outros eletrodomésticos, móveis e eletrônicos que lá estão. E eles não são poucos. Ainda há dois carrinhos de golfe que eram usados para andar pelo condomínio Portobello, onde fica o imóvel. É lá, aliás, que muitos investigados na Lava-Jato compraram ou alugaram casas, entre eles o empreiteiro Fernando Cavendish e o empresário Arthur Cesar Menezes Soares Filho, conhecido como “Rei Arthur” — os dois são acusados de pagar propina a Cabral para obter contratos com o governo.

O ex-governador já deu festas no imóvel durante o réveillon, com DJ contratado, diversos secretários e mergulho no mar para celebrar o novo ano. Mas, na maior parte do tempo, a mansão serviu mesmo para o refúgio da família durante os finais de semana, quando eles usavam o helicóptero do governo do estado para o deslocamento entre Rio e Mangaratiba, como revelou uma reportagem da revista “Veja”, em 2013.

Lá, a família Cabral poderia usar a lancha Manhattan Rio, que o Ministério Público Federal apontou ser do ex-governador, apesar de estar em nome de um ex-assessor. A embarcação, com 24 metros de comprimento, foi avaliada em R$ 4 milhões e também será leiloada. Na parte interior, há TV, aparelhagem de vídeo, geladeira e fogão. São dois deques, duas suítes, duas cabines laterais com camas de solteiro, um bar lounge, uma sala de estar, uma sala de jantar e quatro banheiros. No certame, o leiloeiro Renato Guedes vai receber ainda lances para três veículos, um jet ski e uma embarcação de menor porte.

ENTRADA DE 25% E MAIS 30 PARCELAS

Os lances serão presenciais, na sede da Justiça Federal do Rio, mas podem ser feitos pela internet (www.rioleiloes.com.br), desde que o cadastro tenha sido feito até 24 horas antes do leilão. A regra de pagamento para os bens é a mesma: ao menos 25% do valor arrematado como entrada, e o restante em até 30 parcelas. Quem quiser fazer lances poderá agendar uma visita à mansão de Cabral. Entretanto, a empresa responsável pelo certame faz a checagem de dados do interessado, incluindo a renda.

O advogado Rodrigo Roca, que defende Cabral, condenou a autorização para que a imprensa visitasse a casa do ex-governador e disse que analisa a viabilidade de uma representação contra o juiz no Conselho Nacional de Justiça (CNJ).