Reportagem
Conheça os paulistanos que atuam em espaços públicos para revitalizar a cidade
É comum andar por São Paulo e se deparar com pontos degradados. A conservação de monumentos, parques e bairros deixa a desejar. O resultado poderia ser desastroso se não houvesse entusiastas em reverter essa situação. Cada um do seu jeito se propõe a tratar a cidade como uma extensão de sua casa. A seguir, alguns moradores contam como deram o primeiro passo para pensar no bem coletivo
3 min de leituraQUINTAL NA PRAÇA
Foi por causa de um comentário de sua filha Alice que a empresária Cecilia Lotufo resolveu fazer a diferença. Em 2008, a menina, na época prestes a completar 4 anos, comentou que queria comemorar seu aniversário em uma praça degradada. Quando a mãe explicou os motivos pelos quais não seria possível realizar o desejo de Alice, ela imediatamente respondeu: “A gente conserta, mamãe”. A menina topou a condição imposta por Cecilia de trocar os presentes de aniversário pela revitalização da área, e todos os convidados foram mobilizados. A partir do evento, a empresária se comprometeu a continuar revitalizando praças com a ajuda de vizinhos e simpatizantes da ideia. E assim nasceu o Movimento Boa Praça.
Cecilia defende que o espaço público é um quintal coletivo e tenta convencer as pessoas a pensar da mesma maneira. Como, em sua concepção, o movimento não visa apenas à revitalização, mas também a ocupação urbana, ela finaliza com a pergunta: “A praça está horrível porque ninguém vai ou ninguém vai porque está horrível?”.
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OCUPAÇÃO HUMANIZADA
Em 2011, a arquiteta Renata Minerbo abandonou um emprego estável para colocar suas energias no projeto Acupuntura Urbana, que tem como missão modificar os espaços públicos para que a sociedade retome seu protagonismo. Com o auxílio de comunidades, instituições, empresas e poder público, a proposta é realizar projetos, desde mapeamentos afetivos até transformações urbanas, para mobilizar e melhorar São Paulo.
“Depois que você coloca a mão na massa e enxerga a realização de uma comunidade, não há mais volta. Quanto mais a gente faz, mais quer fazer.” Segundo Renata, o que falta para que as pessoas cuidem melhor da cidade são convites irresistíveis. “Elas querem ajudar, só não sabem por onde começar.”
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VERDE NAS ALTURAS
De origem goiana, o paisagista Guil Blanche sempre se preocupou com questões ambientais e de urbanização, como seu ofício sugere. Mudou-se para São Paulo aos 18 anos de idade, em 2008, e, em 2012, idealizou o Movimento 90º, com a intenção de alterar a paisagem urbana da cidade. O projeto, que contou com a ajuda de profissionais da área, instalou jardins verticais no Minhocão e tem como meta alcançar 8 mil m² de área verde na região.
“A cidade é fruto dos homens e, independentemente de qualquer projeto, ela é impactada pelas pessoas que a habitam. Toda e qualquer transformação só é possível a partir de uma demanda”, defende Guil. Para ele, a conscientização e a necessidade são os propulsores para uma mudança efetiva no pensamento do paulistano.
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A POUCOS PASSOS DA HISTÓRIA
Quando viu a Praça da Sé pela primeira vez, em 2001, após crescer em Amparo, interior de São Paulo, o jornalista André Rocha se encantou de cara com o potencial da capital e de seu patrimônio arquitetônico. Embora já explorasse os aspectos culturais da metrópole, com o retorno de sua amiga Paula Dias, que é relações públicas, da Europa, André tomou a iniciativa de criar a Hey Sampa: “Paula dizia que os cidadãos europeus tinham uma relação de mais pertencimento e conheciam a história de onde moravam”, conta.
A Hey Sampa cresceu e se transformou em uma plataforma criativa para ajudar os paulistanos a entender a importância histórica e patrimonial da cidade. Por meio de ações que incluem roteiros culturais e debates, André acredita que a educação é o caminho para que haja mais apreciação pelo bem coletivo. “Não é simples, é um processo longo”, diz. "Mas ver o sorriso das
pessoas que conhecem pontos turísticos pouco disseminados de São Paulo já é uma vitória."
QUEM PLANTA, COLHE
A jornalista Claúdia Visoni viu potencial em áreas não aproveitadas da cidade para criar hortas comunitárias, ideia que surgiu de sua horta doméstica, iniciada em 2008 com o intuito de reduzir gastos, e ter uma vida mais simples e saudável. A preocupação com o meio ambiente acompanha a jornalista desde os oito anos de idade. “Assisti a uma palestra sobre ecologia e entendi que o modelo em que vivemos colocaria em risco tanto a natureza quanto a civilização”, diz.
Hoje, ela é uma das colaboradoras da comunitária Horta das Corujas, instalada na Praça das Corujas, zona oeste de São Paulo. Com a intenção de criar um espaço de convívio social e de educação ambiental, a horta é cultivada por cerca de dez voluntários, que se comunicam pelo grupo Hortelões Urbanos, onde também trocam dicas de plantio e informações sobre sustentabilidade.