Peru: a busca de pessoas desaparecidas, 30 anos depois

19 julho 2015

Trinta anos depois da violência armada no Peru, entre 1980 e 2000, os familiares dos desaparecidos ainda procuram os corpos e encerramento deste ciclo.

Artigo publicado originalmente por Al Jazeera.

Ayacucho, Peru – Paralisadas por mais de uma década devido ao conflito entre o Sendero Luminoso e as forças armadas durante as décadas de 80 e 90, as comunidades peruanas encontraram um lento caminho para a recuperação com poucas respostas sobre a sorte de seus entes queridos.

Até agora só foram identificados e entregue aos seus familiares os restos de 1,3 mil vítimas, de um total de aproximadamente 16 mil pessoas em todo o país.

No final de outubro de 2014, foi realizada uma cerimônia nos Andes. As famílias de desaparecidos vieram de várias províncias dos arredores de Ayacucho, alguns viajaram 24 horas em minivans e até em mula, para receber os restos de seus entes queridos.

Oitenta e cinco ataúdes brancos enfileirados no pátio do Instituto de Medicina Legal de Ayacucho foram entregues a seus familiares. As famílias e os voluntários transportaram depois os ataúdes pela praça principal de Ayacucho para levá-los de volta para suas casas e dar uma sepultura digna a eles.

Depois de mais de trinta anos do término do conflito, o país ainda precisa de um sistema adequado que possa contribuir com a recuperação dos desaparecidos.

O Ministério da Justiça do Peru trabalha em um projeto de lei desde 2014 que, se fosse implementado, ajudaria a aliviar o sofrimento de milhares de famílias com um novo foco na investigação forense e na exumação de vítimas, brindando apoio psicossocial aos familiares das vítimas e dando apoio material e logístico durante a restituição de restos.

Em 27 de outubro de 2014, depois de quase 30 anos de espera, os familiares de 85 pessoas que faleceram entre 1983 e 1984, se reuniram para recuperar os restos de seus entes queridos no Instituto de Medicina Legal de Ayacucho. [Nadia Shira Cohen/CICV]

As vítimas eram de várias comunidades de Ayacucho, incluindo Chungui, Huancasancos, Huanta, Vilcashuaman, Canayre e Huamanga. [Nadia Shira Cohen/CICV]

Libia, 63 anos, educou seus cinco filhos como mãe solteira depois do assassinato de seu marido. O casal fabricava sapatos em Huancasancos e na noite em que seu marido foi assassinado, Libia tinha viajado para Lima com um de seus filhos para comprar insumos para sua loja. Enquanto estava fora, um grupo de homens entrou em sua casa e disparou contra seu marido na frente dos quatro filhos. [Nadia Shira Cohen/CICV]

Os filhos de Libia viajaram desde Lima para participar do funeral de seu pai em um enterro em Huancasancos com participação de muitas pessoas. [Nadia Shira Cohen/CICV]

As 85 vítimas foram exumadas e identificadas em 2014. Estima-se que entre 13 mil e 16 mil pessoas desapareceram no conflito de 1980-2000. [Nadia Shira Cohen/CICV]

Em 23 de junho de 1983, à 1:00 da manhã, Alejandrina estava em seu quarto dando de mamar a seu bebê de três meses, Alcira, quando um grupo de homens invadiu sua casa e disparou matando a menina e ferindo gravemente a mãe. [Nadia Shira Cohen/CICV]

Os familiares e voluntários levam os caixões pelas ruas de Ayacucho. [Nadia Shira Cohen/CICV]

A comunidade realizou vigílias e cerimônias de enterro para as vítimas do conflito. [Nadia Shira Cohen/CICV]

Dançarinos tradicionais se apresentaram na praça principal de Ayacucho durante uma cerimônia em homenagem às vítimas do conflito. [Nadia Shira Cohen/CICV]

Edma de 49 e Nilton de 46, perderam seus pais durante o conflito. Nesse momento eram adolescentes e tiveram que educar sozinhos seus cinco irmãos e irmãs. Durante a cerimônia de comemoração, soltaram fumaça sobre os ossos de seu pai como sinal de respeito. [Nadia Shira Cohen/CICV]

Depois de mais de trinta anos do fim do conflito, os desaparecidos continuam nessa condição. [Nadia Shira Cohen/CICV]

Centenas de corpos foram desenterrados em La Hoyada, nos arredores de Ayacucho. [Nadia Shira Cohen/CICV]

Desde o ano de 2014, o Ministério de Justiça do Peru trabalha em um projeto de lei que, se fosse implementado, ajudaria milhares de famílias no encerramento dos casos. [Nadia Shira Cohen/CICV]