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BoletIM

Editorial1
Notcias2
Nova ferramenta para formuladores
de polticas e legisladores
3

Compreenso da violncia que afeta


a assistncia sade 
Terreno em foco: Norcross
Seo dos especialistas
Comunidade de interesse

JANEIRO - JUNHO DE 2015

3
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Trabalho conjunto para proteger a assistncia sade


Muitas vidas que
poderiam ser salvas
esto sendo perdidas.
As consequncias
da violncia contra
os profissionais de
sade so muito maiores do que o somatrio
de incidentes particulares. Isto o que sugere
o relatrio do CICV Incidentes violentos que
afetam a prestao da assistncia sade (ver
pgina 3). Se os estabelecimentos de sade
devem ser fechados devido violncia contra
os profissionais, o sistema inteiro de sade de um
pas pode ser interrompido justo quando mais
necessrio. E, com frequncia, as consequncias
continuam sendo sentidas muito depois do fim
do conflito.
Os profissionais de sade devem poder oferecer
uma assistncia adequada sem obstrues,
ameaas ou agresses fsicas; no h como ser
mais explcito sobre a importncia disso. So
necessrias vrias medidas - algumas delas
preventivas e outras para garantir a preparao
em geral - a fim de lidar com as ameaas
prestao da assistncia sade; somente ento
podem ser construdos sistemas resilientes e
sustentveis de assistncia sade.

BOLETiM

Reunindo pessoas de origens muito diferentes,


o projeto Assistncia Sade em Perigo
deu mpeto proteo dos profissionais e
estabelecimentos de sade em conflitos armados
e outras emergncias.
Em dezembro do ano passado, a Assembleia
Geral da ONU adotou a Resoluo 69/132
(disponvel em ingls), proposta pela iniciativa
Poltica Externa e Sade Global. A resoluo, que
constituiu um importante avano para garantir a
proteo dos profissionais e estabelecimentos de
sade, condena veementemente todo ataque
contra os profissionais, veculos, equipamentos,
hospitais e outros estabelecimentos de sade,
e deplora as consequncias de longo prazo de
tais ataques para a populao e para os sistemas
de assistncia sade dos respectivos pases.
Alm disso, a Assembleia Geral adotou outras trs
resolues que instaram os Estados a tomarem
medidas para acabar e prevenir a violncia contra
os profissionais e respeitar a integridade dos
profissionais de sade na realizao do seu dever
em sintonia com os seus respectivos cdigos de
tica profissional e escopo de prticas.
Hoje contamos com ferramentas importantes
e recomendaes desenvolvidas no mbito
internacional que reforam os objetivos do

projeto Assistncia Sade em Perigo. Est


na hora de coloc-las em prtica. Por exemplo,
precisamos desenvolver leis nacionais, conforme
indicado nos Marcos normativos nacionais para a
proteo da assistncia sade (p. 3, disponvel
em ingls), a fim de implementar medidas que
poderiam salvar vidas e tornar mais seguros os
servios de assistncia sade.
Em vrios lugares do mundo, a prestao de
assistncia sade est assolada por perigos.
Hoje, mais do que nunca, devemos trabalhar em
estreita parceria para proteger os profissionais e
os estabelecimentos de sade.
Desde janeiro de 2015, o Senegal preside
a Iniciativa de Poltica Exterior e Sade
Global, lanada no contexto da Assembleia
Geral da ONU em 2006. A iniciativa rene o
Brasil, a Frana, a Indonsia, a Noruega, o
Senegal, a frica do Sul e a Tailndia. Tem
como meta transformar a sade em uma
questo central para poltica externa e o
desenvolvimento.
Sua Excelncia, Senhor Bassirou Sene,
Representante permanente
da Repblica do Senegal
no escritrio das Naes Unidas
em Genebraa

NOTCIAS
Em janeiro, o Conselho de Medicina da Frana
(CNOM) organizou uma reunio em Paris que
abriu novos caminhos para abordar a questo
do projeto Assistncia Sade em Perigo na
Frana, um pas que no atravessa uma situao
de conflito. Mdicos, enfermeiros, parteiras,
farmacuticos e representantes do Ministrio da
Sade da Frana e da Cruz Vermelha Francesa
analisaram incidentes de violncia contra
profissionais de sade no pas e concluram que
uma coordenao e uma formao adequadas
para os profissionais eram indispensveis.
***
Dois seminrios de Assistncia Sade em locais de
deteno foram organizados em Am, Jordnia. Ao
primeiro, em fevereiro, compareceram profissionais
de sade e segurana que trabalham em locais de
deteno e representantes do Departamento Geral
de Inteligncia da Jordnia. Ao segundo, em maro,
assistiram funcionrios da Associao Mdica
Mundial (AMM) e representantes de associaes
mdicas de nove pases do Oriente Mdio e do
norte da frica. Os participantes discutiram os
vnculos entre o projeto Assistncia Sade
em Perigo e a sade em locais de deteno, os
mtodos - dos profissionais de sade nos referidos
locais - para adaptar-se ao estresse, a tica mdica
e os dilemas. As reunies propiciaram grandes
oportunidades para compartilhar experincias e
estabelecer redes de contatos.
***
Em fevereiro, a Cruz Vermelha Norueguesa
organizou o seminrio em Oslo intitulado
Atores Armados No Estatais e o Acesso Sade
em Conflitos Armados. Entre os convidados
estavam vrios ministros do governo noruegus,
membros das foras armadas da Noruega,
organizaes humanitrias e instituies de
pesquisa. Os participantes examinaram os direitos
No comeo de abril, ocorreu uma reunio
histrica para o projeto Assistncia Sade
em Perigo entre representantes do Grupo
de Referncia do Movimento para a
Assistncia Sade em Perigo (GRM) e
organizaes internacionais de assistncia
sade. O GRM est formado pela Federao
Internacional e por 27 Sociedades Nacionais;
a sua funo proporcionar diretrizes sobre
o projeto de Assistncia Sade em Perigo.
As seguintes organizaes de assistncia
sade foram representadas na reunio:
a AMM, a Organizao Mundial da Sade,
a Federao Internacional de Hospitais, a
Federao Internacional de Farmacuticos
2

O impacto da violncia nos profissionais de


sade foi discutido em maro, durante a 20a
Conferncia Interamericana da Cruz Vermelha
em Houston, Texas, nos EUA. Uma oficina relativa
ao projeto Assistncia Sade em Perigo foi
organizada em conjunto pela Cruz Vermelha
Americana e a Cruz Vermelha Colombiana e
presidida pela Cruz Vermelha Salvadorenha. Mais
de 70 participantes da Federao Internacional
de Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente
Vermelho, 25 Sociedades Nacionais da Cruz
Vermelha e o CICV escutaram relatos em
primeira mo do impacto humanitrio da

violncia no continente americano, dos desafios


enfrentados pelos profissionais de sade, que
costumam colocar as suas vidas em perigo para
ajudar os mais necessitados, e das medidas
que as Sociedades Nacionais do continente
americano estavam tomando para proteg-los.
Os participantes destacaram a necessidade de
uma maior atuao em relao a este problema.
O presidente da Cruz Vermelha Salvadorenha
disse: Como Movimento, devemos encontrar
formas de enfrentar essas ameaas a fim de
proteger as vidas dos voluntrios e profissionais
de sade que ajudam as comunidades.

e as responsabilidades dos grupos armados e a


forma em que vrias organizaes e o governo
noruegus podiam influir nos formuladores
de polticas internacionais na questo do
acesso assistncia sade, em relao com
grupos armados. A concluso principal foi que
considerar os grupos armados no apenas
como perpetradores de atos de violncia contra
profissionais e estabelecimentos de sade, mas
tambm como pacientes e prestadores de
assistncia sade, constitua um ponto de partida
importante para desenvolver um dilogo com eles.
***
Em abril, a AMM celebrou a 200a Sesso do seu
Conselho em Oslo, Noruega. O Grupo de Trabalho
para a Assistncia Sade em Perigo da AMM

se reuniu para discutir como implementar as


recomendaes nessa rea no nvel nacional.
Alm disso, a Associao Mdica Britnica
apresentou o seu manual sobre dilemas ticos
(disponvel em ingls), que ser de grande
ajuda para os profissionais de sade no terreno.
***
O 41 Congresso Mundial do Comit Internacional
de Medicina Militar (CIMM) foi realizado em maio
em Bali, Indonsia. A reunio revestiu de particular
importncia o projeto de Assistncia Sade em
Perigo, pois o CIMM endossou formalmente o
documento Princpios ticos da assistncia sade
em tempo de conflito armado e outras emergncias
(disponvel em ingls). O apoio do CIMM implica
que a organizao seja responsvel por difundir os
princpios expostos no documento entre os seus
12 Estados-Membros.
***
No Peru, na zona do vale do rio Apurmac, Ene
e Mantaro, a violncia armada, os incidentes de
segurana, as precrias condies de trabalho
dos profissionais de sade e a geografia afetam
o acesso assistncia sade. Por isso, entre
maro e maio, o CICV realizou oficinas sobre
assistncia sade em perigo em quatro cidades
dessa zona, San Jos de Secce, San Francisco, Valle
Esmeralda e Puerto Ocopa. Nos encontros, foram
transmitidas pautas de comportamento seguro
em contextos de violncia e gerou-se um espao
para intercambiar conhecimentos, experincias e
preocupaes dos profissionais de sade.

(FIP), a Confederao Mundial de Fisioterapia


(CMF), a FIAEM, a Coligao de Salvaguarda
da Sade, a Federao Mundial de Educao
Mdica e o Comit Internacional de Medicina
Militar (CIMM). Os participantes discutiram
formas de colocar princpios ticos em
prtica e como avanar a partir das medidas
nos nveis local e regional - com Estados e
organizaes locais de assistncia sade,
por exemplo. Esta reunio, a primeira do seu
tipo, chamou a ateno para as maneiras
em que o projeto Assistncia Sade em
Perigo poderia reunir pessoas e instituies,
ademais de gerar ideias para melhorar a
situao no terreno.

Nova ferramenta para FORMULADORES


DE polticas e legisladores

Deste processo de consultoria resultou a


publicao Marcos normativos nacionais para
a proteo da assistncia sade (disponvel
em ingls). O documento apresenta medidas
concretas para ajudar os Estados a reforar
as suas leis nacionais e implementar o atual
marco internacional de proteo da prestao
e dos servios de assistncia sade.

A publicao vem acompanhada de


orientaes contidas no Anexo XIX do
manual de Implementao nacional do Direito
Internacional Humanitrio (disponvel em
ingls). Ambos os documentos podem ser
pedidos ou descarregados gratuitamente na
loja virtual do CICV.

DOMESTIC NORMATIVE FRAMEWORKS


FOR THE PROTECTION
OF HEALTH CARE

CICV

AS MEDIDAS SE CONCENTRAM NAS


SEGUINTES REAS:
Aumentar a proteo legal para pacientes,
profissionais e estabelecimentos de sade;
Garantir uma utilizao adequada
dos emblemas da cruz vermelha e do
crescente vermelho;
Proteger a tica e a confidencialidade
mdicas;
Lidar de forma efetiva com as violaes
s normas que protegem a prestao de
assistncia sade.

4215/002 01.2015 1000

A legislao internacional para proteger a


prestao da assistncia sade durante
conflitos e outras emergncias adequada
como tal. Precisa-se com urgncia de um
esforo determinado para implementar essas
normas de maneira efetiva, o qual requer
marcos jurdicos nacionais fortes. Esta foi a
concluso a que chegaram especialistas de
25 pases em 2014, reunidos pelo projeto
Assistncia Sade em Perigo para discutir
como reforar as leis nacionais, no intuito de
aumentar a proteo das pessoas que prestam
ou recebem assistncia sade.

Compreenso da violncia que afeta a assistncia sade

O CICV publicou Incidentes violentos que


afetam a prestao da assistncia sade,
terceiro de uma srie de relatrios interinos.
O relatrio se baseia em dados sobre 2.398
incidentes compilados entre janeiro de 2012
e dezembro de 2014 de vrias fontes em 11
pases onde as equipes do CICV esto ativas
no terreno. Vrias constataes do documento
deveriam causar preocupao:
Mais de 50% dos incidentes documentados
ocorreram dentro de estabelecimentos de
sade ou no seu permetro.
Um total de 1.134 profissionais de sade
foi ameaado e/ou coagido a violar a tica
mdica ou prestar atendimento grtis.
Mais de 700 veculos foram atacados e/ou

obstrudos de forma direta ou indireta; isto


tambm ocorreu durante manifestaes.
Fica claro pelo exposto acima que determinadas
medidas so necessrias com
urgncia - aumentar a segurana
dos estabelecimentos de sade,
promover o respeito pela
tica mdica e garantir um
acesso seguro assistncia
sade. Contudo, a fim de
abordar o problema de forma
integral, os formuladores de
polticas, as organizaes
no governamentais (ONG),
as agncias humanitrias e
outros atores dispostos a agir
em relao violncia contra
a assistncia sade deveriam
realizar anlises minuciosas e
especficas segundo o contexto
no nvel nacional; isto implica

examinar as causas da violncia contra a


assistncia sade. Contar com essa informao
crucial para enfrentar a violncia que afeta a
prestao da assistncia sade.
CICV

Quais so as formas mais comuns de violncia,


real ou a ameaa, contra a assistncia sade
em conflitos armados e outras emergncias? E
quais so as suas consequncias para pessoas,
estabelecimentos e veculos de sade?

tERRENO EM FOCO

D. Revol/CICV

NORCROSS: AJUDA PARA GARANTIR UM ACESSO


SEGURO ASSISTNCIA SADE EM OUTROS PASES

Desde 2013, a NorCross trabalha com vrias


Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do
Crescente Vermelho a fim de garantir um acesso
seguro sade nos seus pases. Frederik Siem,
Assessor de Assistncia Sade em Perigo da
NorCross, explica o motivo: Esse o verdadeiro
esprito do Movimento. No necessariamente
contamos com os conhecimentos operacionais
especficos exigidos, portanto no se trata
de transferirmos o know-how. Porm, temos
experincia nas atividades de preparao para
que outros transmitam conhecimentos entre
si. Decidimos ajudar porque acreditamos que
as Sociedades Nacionais irms, especialmente
aquelas da mesma regio, podem fazer uma
grande diferena para proteger a prestao de
assistncia sade a partir da experincia de
cada uma.
A NorCross concentrou-se na implementao
de recomendaes desenvolvidas dentro do
marco do projeto Assistncia Sade em Perigo
para proteger a prestao dos servios de
sade e garantir um acesso seguro a esta. Neste
aspecto, a organizao elaborou um manual
com base no relatrio Servios de ambulncia

e atendimento pr-hospitalar em situaes de


risco (disponvel em ingls). O relatrio contm
recomendaes valiosas para reduzir os riscos aos
primeiros prestadores. Contudo, como qualquer
recomendao em matria de Assistncia
Sade em Perigo requer implicitamente que
as respostas sejam adaptadas ao contexto, a
NorCross comeou a trabalhar com a Cruz
Vermelha Colombiana e a Cruz Vermelha
Libanesa para organizar e facilitar oficinas para as
Sociedades Nacionais no continente americano

e no Oriente Mdio e no norte da frica


respectivamente, levando em considerao
as necessidades e os problemas especficos de
cada regio. Os resultados dessas oficinas sero
apresentados no novo manual da NorCross
mencionado acima, Melhores prticas para
servios de ambulncia em conflitos e situaes
de risco. O manual tambm conter diretrizes
que outras Sociedades Nacionais podem utilizar
para desenvolver procedimentos operacionais
especficos para cada contexto.

D. Revol/CICV

A Noruega um pas sem conflitos. No obstante,


a Cruz Vermelha Norueguesa (NorCross) uma
das Sociedades Nacionais mais ativamente
envolvidas no projeto Assistncia Sade em
Perigo.

D. Revol/CICV

Roland Sidler/ICRC

tERRENO EM FOCO

A NorCross tambm lanou a iniciativa de tambm apoia a formao em Assistncia


Impacto Rpido, que consiste em projetos de Sade em Perigo para voluntrios dessa
curto prazo com objetivos muito especficos. No Sociedade Nacional, a fim de permitir que
Lbano, a NorCross doou telefones por satlite, realizem atividades de difuso nas comunidades.
que eram necessrios porque as ambulncias O treinamento complementado por um
precisavam manter comunicao constante mdulo de gesto de estresse e preveno
com a base e no se podia recorrer s redes de da violncia interpessoal organizado por um
telefonia celular durante as crises. Na Colmbia, delegado itinerante (ver quadro).
a NorCross est ajudando a Sociedade Nacional
deste pas a desenvolver indicadores para medir No estamos sozinhos neste esforo, afirmou
o progresso referente ao projeto Assistncia Siem. O Ministrio de Assuntos Exteriores da
Sade em Perigo. Finalmente, a NorCross Noruega entendeu a importncia de abordar

DELEGADO ITINERANTE: INICIATIVA DO


PROJETO ASSISTNCIA SADE EM PERIGO
A funo do Delegado Itinerante da NorCross
prestar apoio tcnico e prtico para a preveno
da violncia contra as delegaes do CICV e
as Sociedades Nacionais em vrios pases,
principalmente por meio de cursos de formao
e oficinas sobre o projeto Assistncia Sade
em perigo.
Descobrimos que graas iniciativa de
Assistncia Sade em Perigo, havia cada
vez mais material de leitura sobre a violncia
contra estabelecimentos de sade e servios
de ambulncia. Mas existe muito pouco
material sobre a violncia interpessoal contra os

profissionais de sade. s vezes, so os pacientes


ou os seus parentes que recorrem a tal tipo
de violncia, por causa do medo, da frustrao
ou da insatisfao com os servios de sade
prestados. Acontece em todas as partes, at
mesmo em centros de sade na Noruega, afirma
Frederik Siem, assessor de Assistncia Sade
em Perigo da NorCross. Agora, o Delegado
Itinerante est desenvolvendo uma ferramenta
de treinamento que dotar os profissionais de
sade de determinadas habilidades bsicas para
conter a violncia dirigida contra eles.
Adotamos uma estratgia de formao de
instrutores. A abordagem participativa e
no depende exclusivamente da teoria, conta
Christian Grau, o Delegado Itinerante da

este grave problema humanitrio e assinou


um acordo de trs anos com a NorCross para
financiar as atividades do projeto Assistncia
Sade em Perigo.
O exemplo da Noruega mostra que todos temos
um papel. As Sociedades Nacionais da Cruz
Vermelha e do Crescente Vermelho de pases
em paz e daqueles afetados por conflitos podem
trabalhar juntas para identificar problemas e
encontrar solues. Juntos, podemos garantir
um Acesso Mais Seguro assistncia sade.

NorCross. Os participantes fazem exerccios de


dramatizao com base em casos reais. Depois,
analisam a sua conduta - examinam a conduta
e as emoes do outro durante o exerccio - e
desenvolvem um conjunto de melhores prticas
aplicveis ao seu contexto sociocultural especfico.
A principal vantagem de um trabalho em grupo
semelhante que os participantes desenvolvem
os seus prprios mecanismos de superao.
Cada problema de Assistncia Sade em
Perigo abordado tem caratersticas nicas
para cada situao e exige uma estratgia de
adaptao particular. Isto obriga o movimento
a pensar de forma original e ajuda a fortalecer
a nossa cooperao com outras Sociedades
Nacionais, acrescenta Grau.
5

seo dos especialistas

se

SRC

ASSISTNCIA SADE EM PERIGO: UMA PERSPECTIVA DE GNERO

Jessica Cadesky,
Gerente de Projetos,
Cruz Vermelha Sueca

Jessica Cadesky gerente de projetos da


Cruz Vermelha Sueca e dirigiu o estudo
de que resultou no relatrio O acesso
sade durante conflitos armados e outras
emergncias: examinando a violncia contra
a assistncia sade sob uma perspectiva
de gnero (disponvel em ingls). Nesta
entrevista, Cadesky conta as concluses do
estudo e o que motivou a sua realizao.

Qual a finalidade do estudo?


O objetivo principal contribuir com exemplos
sobre a utilidade de analisar os problemas sob
uma perspectiva de gnero, isto , como que
fazendo isso pode nos ajudar a identificar e
abordar os desafios que afetam o acesso
assistncia sade. Decidimos analisar os
obstculos e desafios especficos enfrentados
por cada grupo: homens, mulheres, meninos
e meninas; tambm examinamos at que grau

C. Von Toggenburg/CICV

Por que a Cruz Vermelha Sueca decidiu


estudar a relao entre o projeto Assistncia
Sade em Perigo e o gnero?
Sugerimos fazer esta pesquisa porque queramos
ajudar a comunidade de profissionais do

projeto Assistncia Sade em Perigo e outros


a desenvolverem uma compreenso mais sutil
do impacto da violncia contra a assistncia
sade e para avanar alm da questo de quem
era mais vulnervel. O estudo tambm surgiu
de um compromisso conjunto, feito entre o
governo sueco e Cruz Vermelha Sueca na 31a
Conferncia Internacional da Cruz Vermelha e
do Crescente Vermelho de procurar pesquisar
sobre gnero e Direito Internacional Humanitrio
(DIH), o qual, claro, est muito vinculado com o
projeto Assistncia Sade em Perigo.

as diferenas de gnero foram levadas em


considerao e o impacto dessas diferenas na
aplicao do DIH que rege a assistncia sade.
Quais so as principais constataes?
Em primeiro lugar, constatamos que os
dados confiveis discriminados por sexo e
idade no estavam acessveis, o que dificulta
muito a identificao dos riscos especficos
que homens, mulheres, meninos e meninas
correm. O estudo chama a ateno para as
formas em que o gnero pode ter peso na
determinao do acesso assistncia sade.
Por exemplo, no contexto de ambos os casos
estudados - o Lbano e a Colmbia - chegar a um
estabelecimento de sade era particularmente
complicado para alguns homens adultos (tanto
para os que prestam como para os que buscam
assistncia sade), porque se presumia
rapidamente que participavam do conflito
e portanto eram vulnerveis a ameaas ou
ataques. claro, para discutir plenamente todas
as constataes e recomendaes, recomendo
a leitura do relatrio completo!
Quais so as recomendaes do estudo e
para quem esto dirigidas?
O estudo faz recomendaes para cinco
grupos bsicos: atores armados, atores
estatais, ONGs e o Movimento Internacional
da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho,
prestadores de assistncia sade e membros
das comunidades. As recomendaes bsicas
so as seguintes: compilar e compartilhar dados
sobre os incidentes discriminados por sexo e
idade; empregar uma perspectiva de gnero
na hora de implementar recomendaes
relacionadas com a Assistncia Sade
em Perigo; considerar a forma em que as
decises operacionais poderiam afetar de
forma diferente homens, mulheres, meninos
e meninas; pesquisar mais sobre cada contexto
especfico em uma perspectiva de gnero.
Esperamos que este estudo inspire outras
partes interessadas a refletirem sobre o fato
de que homens, mulheres, meninos e meninas
podem vivenciar incidentes de violncia
contra a assistncia sade de forma diferente,
e sobre o que podemos fazer para garantir
que todos os grupos recebam a assistncia
sade que precisam quando esto doentes ou
feridos, sem distines adversas.

seo dos especialistas

Mamady Ciss,
secretrio-executivo,
Cruz Vermelha da Guin
Durante a epidemia de ebola na Guin,
ocorreram incidentes violentos contra
profissionais de sade que tentavam
combater a doena. A Cruz Vermelha da
Guin, que esteve envolvida ativamente na
resposta contra o ebola (com apoio do CICV e
da Federao Internacional), no foi poupada
dessa violncia. Mamady Ciss, secretrioexecutivo da Cruz Vermelha da Guin e
vice-diretor do comit de resposta ao ebola,
conta as medidas adotadas pelas Sociedades
Nacionais para lidar com essa situao.
Qual foi o impacto da violncia contra os
profissionais de sade na Guin na resposta
epidemia de ebola?
Os incidentes violentos tiveram um impacto
extremamente adverso sobre todos os aspectos
da resposta ao ebola. A melhor forma de ilustrar
este ponto com um exemplo concreto
relacionado aos nossos esforos para combater
o ebola. Alm do aspecto de mobilizao social
do assunto, realizamos trs atividades principais:
levar os que padecem a doena para centros
de tratamento; dar queles que morreram da
doena um sepultamento seguro e digno; e
desinfetar as casas contaminadas. Se os nossos
profissionais no conseguirem chegar aos
pacientes por causa da violncia, estes no
sero tratados e aqueles em contato com eles

tambm podem contrair a doena. Se algum


morrer por causa da doena e no pudermos
tratar o cadver de forma adequada, a doena
continuar se espalhando. E em ltimo lugar,
no se pode realizar nenhuma atividade de
conscientizao em reas afetadas pela violncia,
e aquelas pessoas que entraram em contato com
o vrus poderiam sofrer estigmatizao e rejeio.

decidamos com estas que medidas tomar.


Implementaram-se medidas que permitiram
retomar o trabalho, a maioria das quais envolveu
uma aproximao dos lderes da comunidade e
as autoridades locais, mas tambm fazer com
que os voluntrios analisassem a sua prpria
conduta e atitude no intuito de superar a perda
de confiana.

Qual a causa dos ataques contra os


profissionais de sade e outros trabalhadores
da Cruz Vermelha que esto tentando
combater a epidemia?
Em primeiro lugar, preciso entender a
importncia dos rituais fnebres nos costumes
e tradies das nossas comunidades (como
celebraes e oferendas para os falecidos).
Desde que a resposta ao ebola comeou a
vigorar, pedimos s pessoas que renunciem
s suas tradies mais enraizadas por tempo
indefinido. Tambm necessrio lembrar que as
pessoas somente contam com acesso limitado
assistncia sade. Isto, junto ao fato de que
as redes de comunicao so rudimentares
e transmitir a mensagem aos beneficirios
muito complicado (os transmissores de rdio
costumam quebrar e faltam rdios comunitrias),
implica que os boatos se disseminam
rapidamente por meio de canais informais e a
violncia costuma ser consequncia deles.

Na sua opinio, qual o papel que o governo


deveria desempenhar na proteo dos
profissionais de sade e na preveno deste
tipo de ataques?
O governo tem um papel fundamental
para garantir a segurana dos profissionais
de sade em todo o pas. As autoridades
tambm deveriam ser bem versadas nos
Princpios Fundamentais do Movimento e nas
regulamentaes de segurana em vigor e
promover ativamente o respeito por eles. Elas
tambm deveriam facilitar o dilogo aberto
com as comunidades e a Sociedade Nacional
para fomentar o entendimento, a aceitao
e o respeito mtuo. Desta forma, no seria
necessrio seguir a proposta do governo,
segundo a qual os voluntrios da Cruz Vermelha
deveriam se deslocar com uma escolta militar.

Como foi a reao a esses incidentes


violentos?
A Cruz Vermelha da Guin combina vrias iniciativas a fim de conseguir chegar at os pacientes de
ebola e proteger os seus profissionais apesar das
condies difceis. Em termos gerais, optamos
por adotar iniciativas de comunicao para
conscientizar quanto ao
nosso trabalho no nvel
comunitrio. Tambm
organizamos oficinas
de Acesso Mais Seguro
para os nossos voluntrios, a fim de abordar
as suas experincias
de violncia. Quando
ocorria um incidente
especfico, as equipes
eram colocadas a postos
enquanto informvamos ao Movimento
e s autoridades e
Cruz Vermelha da Guin

GRC

LIES APRENDIDAS COM A EPIDEMIA DE EBOLA

Que lies o senhor acredita que podemos


tirar desta experincia para aumentar o
acesso seguro e a prestao de assistncia
sade em outros contextos?
O treinamento de Acesso Mais Seguro para os
voluntrios foi fundamental, mas eu tambm
diria que a outra grande lio foi se comunicar
mais e melhor e manter a comunicao. No
combate ao ebola, vital obter garantias de
segurana das autoridades locais, dos lderes
comunitrios e dos jovens, assim como dos
parentes dos pacientes ou falecidos. Mais do que
nunca, precisamos da confiana e da cooperao
ativa das comunidades. Os voluntrios que
colocam as suas vidas em perigo todos os dias
para ajudar outros precisam de reconhecimento
e cooperao, e acredito que deveria ser assim,
seja qual for a situao. Por outro lado, o governo
deveria tomar as medidas certas para garantir
que todos os envolvidos na prestao de
assistncia sade de emergncia saibam quem
responsvel por cada coisa e quem est fazendo
o qu. Isto evitar mal-entendidos, melhorar a
organizao e contribuir para a melhoria da
cooperao e da resposta a emergncias.
7

comunidade de interesse

Videogame sobre transporte de


Agenda
feridos por via area ao hospital
ganha prmio especial do projeto
assistncia sade em perigo

De 29 de maio a 5 de julho de 2015

Matar prisioneiros ou feridos e atacar profissionais, estabelecimentos e veculos de sade est se tornando
cada vez mais frequente nos videogames. Isto um problema, porque os jogos blicos podem influir nas
ideias dos usurios sobre o que os portadores de armas tm permisso para fazer durante um conflito.
Mas tambm pode representar uma oportunidade para desenvolver videogames que entretenham,
ao mesmo tempo em que difundam conhecimentos sobre o Direito Internacional Humanitrio.
Em abril de 2014, o CICV e a Bohemia Interactive, uma produtora de videogames de conscientizao
social, criaram um prmio especial para o projeto Assistncia Sade em Perigo dentro da competio
Arma 3. Pediu-se aos criadores de jogos que elaborassem um mdulo especial de videogames que
promovesse o respeito pelos profissionais e estabelecimentos de sade.
O vencedor do prmio especial da Assistncia Sade em Perigo, anunciado em 26 de maro, foi
RobJ2210, que desenvolveu uma operao de resgate areo de civis na qual os jogadores devem evacuar
os feridos para o hospital. Como parte do prmio especial do projeto Assistncia Sade em Perigo,
Robj2210 poder realizar uma visita de uma semana a uma delegao do CICV a fim de aprender mais
sobre as atividades reais para salvar vidas.

Exposio fotogrfica em So Paulo,


Brasil

A delegao regional do CICV em


Braslia inaugurou uma exposio de
mais de 70 fotos tiradas em hospitais e
campos de batalha da Lbia e da Somlia,
entre 2010 e 2013. Mais informaes:
https://www.icrc.org/pt

23-25 de agosto de 2015


Frum Europeu, Alpbach, ustria
A Cruz Vermelha Austraca e o CICV
organizaro uma oficina de Assistncia
Sade em Perigo durante o Frum Europeu
Alpbach, que ser realizada na cidade de
Alpbach, ustria. Mais informaes:

CICV

http://www.alpbach.org/en

Voc sabia que todos os meses entrevistamos um membro da Comunidade de Interesse da


Assistncia Sade em Perigo que contribuiu de alguma maneira para proteger o acesso e
a prestao da assistncia sade? Entre os ltimos entrevistados esteve o Dr. Zaher Sahloul,
presidente da Sociedade Mdica Srio-Americana, que descreveu o impacto do conflito no
sistema de sade da Sria, e Leslie Leach, assessora de Acesso Mais Seguro, que explicou como
o Marco para um Acesso Mais Seguro podia garantir a segurana dos profissionais e voluntrios
das Sociedades Nacionais.
Se voc quiser contribuir com informaes, fazer sugestes sobre o projeto Assistncia Sade
em Perigo e/ou compartilhar as suas experincias com a proteo da prestao da assistncia
sade, no hesite em contatar Chiara Zanette em czanette@icrc.org. Nos vemos on-line!
DICA ON-LINE: Para ler essas interessantes entrevistas e outros materiais, visite a rea Mdia,
clique em Por tipo de ferramenta e depois em Entrevistas.

Assistncia Sade em Perigo um


projeto do Movimento Internacional da
Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho,
coordenado pelo CICV, com a finalidade
de aumentar a eficincia na prestao da
assistncia sade de modo imparcial em
conflitos armados e outras emergncias. Isso
feito mediante a mobilizao de especialistas
para a elaborao de medidas prticas que
possam ser implementadas no terreno pelos
responsveis pelas decises, organizaes
humanitrias e profissionais de sade.

www.healthcareindanger.org
Siga-nos em @HCIDproject

Comit Internacional da Cruz Vermelha


19, avenue de la Paix
1202 Genebra, Sua
T +41 22 734 6001 F +41 22 733 2057
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CICV, julho de 2015

Foto da Capa: Hospital de Campanha do Crescente Vermelho do Catar em Sidon, Lbano. J. Bjrgvinsson/CICV

4242/007 07.2015

o projeto Assistncia sade


em perigo na Web

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