• Rennan A. Julio
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Jurassic World (Foto: Divulgaçao)

Jurassic World (Foto: Divulgaçao)

A estreia de Jurassic World — O Mundo dos Dinossauros ressuscitou um antigo medo dos especialistas: a representação errada que Hollywood faz destes animais pré-históricos. Para entender melhor a questão, conversamos com o paleontólogo Luiz Eduardo Anelli, professor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo e autor do Guia Completo dos Dinossauros do Brasil (Ed. Peirópolis), além dos recém lançados Dinossauros: o cotidiano dos dinos como você nunca viu (Ed. Panda Books) e ABC Dinos (Ed. Peirópolis). Veja a conversa:

O que você acha da franquia Jurassic Park? 

Eu assisti ao primeiro filme e achei maravilhoso. Digamos que eu tenha achado perfeito, dentro dos limites de uma história ficcional. Sem comentar que existe um paleontólogo no filme e o meu sonho, como o de muitos outros da área, sem dúvida, é o de viver um pouco da pré-história. Mas isso lá em 1993, hoje, depois dos outros filmes, minha opinião já é diferente.

Como assim? 

Por exemplo, desde 1990 já se sabe que os velociraptores possuíam penas. E, no filme, não mostraram dessa forma. Além disso, houve uma estagnação na ideia hollywoodiana de que dinossauros viviam o tempo todo massacrando, devorando e destruindo tudo o que encontravam pela frente. Isso é péssimo. Sinceramente, quando vi o trailer do novo filme, achei de puro mau gosto.

Para você, qual é a real função da representação dos dinossauros?

Os dinossauros sempre foram os meus melhores professores. Foi o grupo que perdurou por muito tempo e que está aqui até hoje. Eles nasceram na pangeia; estavam lá no nascimento do Atlântico; na divisão dos continentes; atravessaram duas grandes extinções em massa. No Brasil, pisaram nas areias que deram origem ao Aquífero Guarani, beberam água nas margens do lago que deu origem ao Pré-sal. 

Ao contrário do que a maioria pensa, os dinossauros estão vivos, voando entre nós. Depois da grande extinção foi essal inhagem que sobreviveu, e são as aves que formam o grupo mais diversificado dentre os seres vertebrados. 

Quanto aos seus novos livros, o que você pretende mostrar com eles?

Com Dinossauros: o cotidiano dos dinos como você nunca viu quero tirar a morte, a dor, a perseguição e a agonia da cabeça das pessoas que pensam em dinossauros. Eles não eram só isso. Construíam ninhos, cuidavam da prole, brincavam, acasalavam, subiam em árvores.

Já no ABC Dinos — onde também não há morte nem destruição — mostramos como esses animais podem ser uma ferramenta educativa. É horrível pensar que os caras [de Hollywood] gastem 80 bilhões de dólares para fazer um filme que só tem morte e destruição. No livro, a gente mostra de tudo, até os bichos defecando [risos].

E o que dá para falar sobre a pré-história brasileira?

O que nós somos hoje é uma herança da pré-história, que é maravilhosa e totalmente desconhecida. Infelizmente, a relação que se construiu dos dinossauros é essa: a da matança. O que falta é equilíbrio. Sem mencionar que pouquíssimos jovens sabem quais foram os animais brasileiros. A maioria cita bichos americanos e europeus. É uma pena, a nossa história no planeta é incrível.

Veja as 5 principais descobertas da pré-história brasileira.