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Crítica

Homem-Aranha - Spider-Verse | Crítica

A teia das lamentações

03.03.2015, às 18H39.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H42

Numa das histórias mais bem sacadas de "Spider-Verse", publicada em uma das HQs paralelas à saga que ocupou as sete últimas edições da série Amazing Spider-Man do Homem-Aranha, o vampiro Morlun não entende por que Peter Parker fica repetindo, sempre no primeiro quadro de cada tira, a premissa básica da trama que eles estão protagonizando. É uma piada metalinguística com aventuras que eram serializadas em tiras de jornal, sempre incorporando o "previously..." em diálogos para situar leitores novos.

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É uma piada curiosa porque, ironicamente, toda essa saga escrita por Dan Slott cai na armadilha da repetição. Ao mesmo tempo em que "Spider-Verse" atende ao desejo do fã de ver reunidos numa única história (quase) todas as versões do Homem-Aranha já concebidas na cultura pop, o leitor precisa lidar com a multiplicação dos clichês dramáticos das histórias do Aranha, a questão da perda e da culpa.

Então até que a trama engrene, na reunião dos vários Aranhas de realidades paralelas para combater a ameaça cósmica da família vampira de Morlun, somos submetidos à mesma exposição ("estamos aqui para combater um mal maior", explicam os personagens sempre que algum novo Aranha entra na ação), às mesmas piadas ("sim, existe um porco-aranha"), à mesma convocação à ação ("cada um tem sua identidade mas unidos somos mais fortes") e, por fim, aos mesmos dilemas de luto (Ben perdeu a família, May perdeu os pais, Gwen perdeu seu Parker, Peter perdeu sua Gwen...).

Se individualmente algumas histórias passadas do Aranha parecem recorrer ao luto e à culpa apenas como uma muleta narrativa, sem um peso dramático de fato, imagine ver isso multiplicado em uma história que, por questão de espaço, não tem como desenvolver cada um desses personagens a contento. Para cada momento de fan service catártico de "Spider-Verse", como a chegada do megazord do Aranha japonês, Slott nos faz passar por páginas e páginas de lamentação, variações do clássico "tudo é culpa minha" de Parker. Redenções ficam mais previsíveis (Gwen obviamente enfrentará o Duende Verde, por exemplo) e a história de superação perde o que ela tem de especial, que é a excepcionalidade.

Como é comum em diversas sagas de Marvel e DC que perdem a noção do pequeno drama diante de tamanho gigantismo, alguns dos melhores momentos de "Spider-Verse" estão nas HQs complementares, menos grandiloquentes. Prólogo da saga, Edge of Spider-Verse continha histórias encerradas em si que, por conta disso, pareciam mais satisfatórias enquanto narrativa (embora o mecha-Aranha de Gerard Way nunca deixe de ser um conceito para virar uma história com começo, meio e fim, propriamente). E Spider-Verse #2 apresenta as duas melhores historinhas dos Aranhas alternativos, uma de lendas africanas ("Anansi: A Spider in Sheep's Clothing", de Kathryn Immonen e David LaFuente) e outra punk oitentista ("With Great Power Comes no Future", de Jed MacKay e Sheldon Vella).

E o que prometia ser uma saga das mais divertidas (que em seus momentos mais leves, como nas brincadeiras de metalinguagem com games, tiras de jornal e produtos de época, realmente é engraçada) termina arrastada pela reiteração e pelo pesar.

Nota do Crítico
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