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‘É necessário respeitar as leis de guerra em Mossul’, alerta Cruz Vermelha

Membro da entidade em Bagdá alerta para situação de civis sob fogo cruzado
Forças iraquianas se reúnem para a retomada da cidade de Mossul, capital do Estado Islâmico Foto: Khalid Mohammed / AP
Forças iraquianas se reúnem para a retomada da cidade de Mossul, capital do Estado Islâmico Foto: Khalid Mohammed / AP

RIO e BAGDÁ - Em uma batalha decisiva na luta contra o Estado Islâmico (EI), a tropas iraquianas avançam desde anteontem sobre Mossul. Embora apoiada pela coalizão internacional de combate aos jihadistas, a ofensiva na cidade às margens do rio Tigre, onde o grupo extremista proclamou seu califado há mais de dois anos, preocupa as organizações humanitárias internacionais. Na terça-feira, o Pentágono confirmou que civis estão sendo usados como escudo humano por combatentes jihadistas. Segundo Ralph el Hage, representante da Cruz Vermelha em Bagdá,  é certo que agora a cidade vive um momento crítico desta guerra, depois de cair nas mãos do EI e se tornar um simbólico reduto extremista em 2014. O receio é que a segunda cidade mais importante do Iraque seja palco de uma tragédia como a de Ramadi, devastada pelas disputas pelo controle do território no ano passado.

Quais são os maiores riscos para a população de Mossul hoje?

A maior preocupação é o uso de armas explosivas em áreas urbanas altamente populosas. Mais de 1 milhão de pessoas podem se deslocar de suas casas para procurar abrigo nos arredores de Mossul. Pouco se sabe como é a vida na cidade hoje, mas o que sabemos é que, quando as pessoas deixarem suas casas, definitivamente precisarão de assistência, para terem acesso a água potável, alimentos e cuidados médicos.

Como manter essas pessoas seguras em uma guerra tão violenta?

Sem deliberadamente mirar civis, hospitais, locais religiosos ou áreas populosas. É necessário respeitar as leis de guerra para proteger a população de Mossul. Algumas pessoas escolherão deixar a cidade e precisam ter a chance de ir embora em segurança. E as pessoas que decidirem ficar sob o fogo cruzado têm este direito, então a ajuda dos trabalhadores humanitários precisa chegar onde quer que elas estejam.

E os civis ainda correm o risco de virar escudos humanos do Estado Islâmico...

Sim, esta é uma das muitas razões que faz as pessoas fugirem. Elas vão embora quando veem que não têm outra escolha. Deixar todas as suas memórias e seus bens para trás em direção a um destino desconhecido, sem saber se um dia você poderá voltar, não é fácil. Mas, no fim, a natureza do conflito e o grau de respeito às leis humanitárias refletem em como as pessoas reagem à guerra.

Qual deverá ser o destino de Mossul ao fim destes confrontos?

Quando a batalha acabar, e não temos previsão para isso, não importa quem vença, os civis não podem perder suas vidas. Tudo o que não tem a ver com a guerra precisa ser salvaguardado. Não queremos ver em Mossul o que aconteceu na cidade de Ramadi, que ficou quase completamente destruída. As pessoas que fugiram não puderam voltar, porque a maioria das casas estava inabitável.

Mossul vive seu momento mais difícil desde que o EI tomou controle?

Sim. Hoje a situação é muito preocupante pelo grande número de combatentes e de armas que serão usadas em áreas urbanas. A escala da operação é a maior que a cidade já viu. Responder a isso, principalmente com o inverno chegando, é um grande desafio para a comunidade humanitária.