Níger: ajuda alimentar em grande escala para a população que foge do conflito na Nigéria

13 janeiro 2015
Níger: ajuda alimentar em grande escala para a população que foge do conflito na Nigéria
Centro de saúde de Bosso, região de Diffa, Níger, novembro de 2014. Uma enfermeira vacina uma criança. O CICV arcou com a vacinação de 30 mil crianças (tanto deslocadas como residentes) contra sarampo no departamento de Bosso. [CC BY-NC-ND / CICV / H. Oumarou]

A violência no nordeste da Nigéria continua expulsando as pessoas das suas casas e fazendo com que atravessem a fronteira para a área longíqua de Diffa, no sudeste de Níger. Os combates, a apenas alguns quilômetros da fronteira, obrigaram milhares de pessoas a abandonarem as suas casas e buscar refúgio em Diffa, onde vivem em condições muito precárias.

Durante os últimos três meses, mais de 25 mil pessoas (moradores, deslocados e retornados) receberam ajuda do CICV, que trabalhou em estreita cooperação com a Cruz Vermelha do Níger para distribuir ajuda alimentar para quase 45 mil pessoas em 2014. Destes, cerca de 11 mil também receberam artigos domésticos básicos (cobertores, lonas, mosquiteiros, colchonetes, roupas e utensílios de cozinha).

"Além de assistir os feridos, precisamos fornecer com urgência alimentos, água potável e artigos básicos para as milhares de pessoas – na maioria mulheres e crianças – que continuam fugindo da violência", explicou o chefe da delegação do CICV em Níger, Loukas Petridis.

Alimentos e outros tipos de assistência para os deslocados e moradores

Os confrontos e a precária situação de segurança resultante têm praticamente esvaziado as cidades e povoados fronteiriços no nordeste da Nigéria, já que a população fugiu para o Níger. "Diferentemente dos fluxos anteriores de deslocados, os que chegam hoje parecem determinados a permanecer mais tempo em Níger", diz o chefe da subdelegação do CICV em Diffa, Yssouf Koné. A situação é preocupante para a Cruz Vermelha, acrescentou, porque quanto mais tempo os deslocados ficarem, maior a pressão sobre as comunidades que os acolhem e sobre os seus recursos em uma área que já sofre com a redução drástica no comércio com a Nigéria e com um período de pouca produção agrícola e pastoril.

 

 

Local de distribuição, próximo a Diffa, Níger, dezembro de 2014. Um funcionário do CICV conversa com pessoas deslocadas antes da distribuição de alimentos. [CC BY-NC-ND / CICV / A. Hammadou]

Nos municípios de Bosso (em especial das ilhas do Lago Chad), Diffa, Gueskérou, Chétimari, Kabléwa e N'guigmi, o CICV e Cruz Vermelha de Níger assistem as populações que fugiram do conflito, bem como algumas comunidades que as acolhem, que são particularmente vulneráveis.

Quase cinco mil pessoas, inclusive mais de mil moradores, receberam recentemente ajuda alimentar em N'guigmi e Kabléwa. Outros artigos básicos também foram entregues a mais de 200 famílias deslocadas.

Em novembro e dezembro de 2014, quase 21 mil pessoas (na maioria famílias deslocadas, mas também alguns moradores) receberam ajuda alimentar. Artigos básicos também foram entregues para cerca de mil famílias deslocadas.

O sofrimento dos deslocados nas ilhas do lago Chade continua causando grande preocupação. O acesso ainda é um problema, com desafios logísticos e considerações de segurança que impedem os profissionais humanitários de chegarem a todos os necessitados. No final de outubro de 2014, o CICV e a Cruz Vermelha do Níger distribuíram alimentos para quase três mil pessoas nas ilhas de Atchabassonori, Kwikléwa, Ali Mandoula, Gadira, Kandahar Hamidou, Kandahar Yacine e Kachimba.

Atendimento aos feridos e melhoria do acesso a assistência à saúde, água e saneamento

Durante os últimos três meses, aproximadamente 50 feridos foram atendidos no hospital regional de Diffa e no centro de saúde integrado de Bosso, dois estabelecimentos que recebem apoio do CICV. Uma equipe cirúrgica do CICV passou três semanas no hospital de Diffa, ao qual também foi entregue recentemente material médico com a finalidade de aumentar a capacidade técnica dos profissionais e ajudar no atendimento aos feridos. A equipe trabalhou principalmente com o departamento cirúrgico do hospital sobre técnicas de cirurgia, supervisão de pacientes e as diretrizes do CICV sobre o tratamento de feridos por armas de fogo.

A grande quantidade de deslocados que mora na área de Diffa e as condições muito difíceis em que vivem aumentam o risco de epidemias. Para minimizá-lo, o CICV financiou uma campanha de vacinação contra o sarampo na província de Bosso (Bandi, Baroua, Bosso, Dagaya e Toumour), onde muitos dos deslocados vivem. Quase 30 mil crianças, com idade entre nove meses e 14 anos, muitas de famílias deslocadas, foram vacinadas contra essa doença.

 

Local de distribuição, Garin Dogo, Gueskérou, próximo a Diffa, Nìger, dezembro de 2014. Pessoas deslocadas recebem alimentos do CICV e da Cruz Vermelha do Níger. [CC BY-NC-ND / CICV / A. Hammadou]


Em Bosso, a proximidade com o rio Yobe, um afluente do lago Chade, agrava os riscos de saúde porque a água dos poços na região possui um alto teor de ferro e as pessoas, devido à sua cor avermelhada, preferem buscar água diretamente no lago, apesar dos riscos. Após consultar com a população e autoridades locais, os engenheiros do CICV reconectaram a rede da cidade de Bosso ao poço de N'Gouba, a 13 quilômetros de distância, cuja água é de melhor qualidade. Eles também consertaram o poço. Realizou-se uma campanha de conscientização sobre higiene e água, seguida pela distribuição de 850 galões para a coleta e armazenamento de água para uso doméstico. Enquanto isso, em Garin Dogo (no município de Gueskérou), não havia nenhum ponto moderno de distribuição de água, embora a população do povoado tivesse dobrado em quantidade com o fluxo de deslocados. O CICV, portanto, instalou no local um ponto com alta capacidade, equipado com um tanque de 30 mil litros e quatro torneiras. Desse modo, aproximadamente seis mil pessoas (deslocados e moradores) terão acesso á água potável.

Na área de Diffa, no último ano, o CICV perfurou ou consertou dez poços equipados com bombas manuais, dois poços artesianos, um sistema de fornecimento de alta capacidade e uma fonte.

"Estamos preocupados com a quantidade de deslocados que chegou nas últimas semanas e, sobretudo, com relação à sua vulnerabilidade extrema", afirmou Petridis. "Alguns estão feridos, outros doentes, alguns perderam o contato com os parentes. A maioria foi diretamente afetada pela violência e perderam todos os pertences e meios de subsistência". Mais do que nunca, o Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho permenece a postos para ajudar as pessoas que fogem da violência no nordeste da Nigéria.

Mais informações:
Oumarou Daddy Rabiou, CICV Niamei, tel: +227 96 66 99 12
Thomas Glass, CICV Genebra, tel: +41 22 730 31 49 ou +41 79 244 64 05