Casas e apartamentos
Materiais e cores neutros garantem elegância neste apartamento
Os objetos da diretora de arte Fabiana Zanin pediam uma base discreta. Para emoldurar tanta personalidade, o designer Marcelo Rosenbaum e o arquiteto Flavio Miranda exploraram materiais neutros no apê de 150 m²
2 min de leituraQuando a diretora de arte Fabiana Zanin sente que algo é para ser, um leve arrepio lhe sobe pela nuca. Da última vez que isso aconteceu, ela caminhava pelo bairro Higienópolis, em São Paulo, ao lado da corretora de imóveis que acabara de lhe mostrar o apartamento de 150 m² no histórico Edifício Louveira. “Ele vai ser meu”, disse Fabiana.
Recém-divorciada e com um sério problema de saúde resolvido, ela retomaria o fio da meada de sua vida em diversos aspectos – trabalho, vocações e até hábitos alimentares. Começou pela escolha do teto. Localizado no prédio projetado em 1946 pelos arquitetos Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi, o apartamento exigiu, na primeira visita, poder de abstração. Habitado por moradores que o haviam descaracterizado em uma reforma nos anos 1980, o imóvel tinha banheiros sem ventilação, cozinha apertada e piso laminado envelhecido. Mas nada fez Fabiana desistir. “Só conseguia olhar para as copas das árvores, bem na altura das janelas”, lembra.
Parceira do designer Marcelo Rosenbaum no projeto A Gente Transforma, Fabiana contou com a ajuda do amigo e também do arquiteto Flavio Miranda para fazer daquele espaço seu ninho. Atualizar as instalações elétricas e hidráulicas, integrar a cozinha à sala, descascar colunas mostraram-se mais do que atitudes estéticas. Em termos simbólicos, Fabiana promovia verdadeira limpeza energética emsua vida. Para Flavio, a tarefa foi memorável. “Criar a partir de uma planta do Artigas é covardia. A base é muito boa”, diz. O arquiteto ressalta também a atenção dedicada à escolha de materiais que dialogassem com a linguagem modernista do prédio – caso do cimento queimado, por exemplo. Madeiras, tijolos aparentes e texturas naturais silenciosamente formaram a base para o que viria na decoração. Na opinião de Rosenbaum, o trunfo estético do projeto é sua característica neutra, no melhor dos sentidos. “O bomneutro é aquele que abre espaço para a personalidade do morador”, explica.
Terminada a obra, Fabiana viveu o grande dia: abrir as caixas da mudança e inaugurar um novo capítulo de sua história. Reencontrou as colheres de pau, o anjo feito pelo santeiro do Piauí, as latas de chá, o saleiro e o pimenteiro. Pregou na parede da cozinha os quatro pratos que formam a palavra AMOR. Matou a saudade de seus colares, louças, tapetes. Móveis vintage restaurados, como a mesa de jantar com bancos de ferro nas cabeceiras, sediariam grandes encontros, como de fato aconteceu.
Atualmente, Fabiana trabalha com causas ligadas a sustentabilidade e bem-estar, se alimenta sob os princípios da medicina ayurvédica, cuida das plantas e abre sua casa para cursos de culinária orgânica. Um dia está na Índia, outro na Amazônia. Iluminado e descomplicado, seu apartamento é como um bom ouvinte para tantas experiências. As vividas e as que estão por vir.