• Por Fabiana Pires
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Da esquerda para a direita: Sandra Boccia, diretora de redação de PEGN, Zé Aliperti, fundador e CEO da Kidu, Romero Rodrigues, fundador do Buscapé e Arthur Rufino, diretor de marketing da JRDiesel (Foto: Carlos Della Rooca)

Sandra Boccia, diretora de redação de PEGN, Zé Aliperti, fundador e CEO da Kidu, Romero Rodrigues, fundador do Buscapé e Arthur Rufino, diretor de marketing da JRDiesel (Foto: Carlos Della Rooca)

Com o tema "Não deixe nenhum obstáculo ser maior do que seu sonho", a Semana Global de Empreendedorismo começou reunindo grandes nomes em São Paulo nesta segunda-feira (17/11). Romero Rodrigues, fundador e CEO do Buscapé, Zé Aliperti, fundador e CEO da Kidu, e Arthur Rufino, diretor de marketing e desenvolvimento da JRDiesel, se encontraram no prédio do Santander, zona sul da capital paulista, para falar sobre os maiores desafios que enfrentaram durante a formação de suas empresas. O painel foi moderado pela diretora de redação de Pequenas Empresas & Grandes Negócios, Sandra Boccia. 

Uma barreira interna

Quando garoto, Aliperti tinha o sonho de trabalhar na siderúrgica da família. Ao se formar no colégio, contudo, o empreendedor não sabia ao certo qual vestibular queria prestar. Enquanto pensava sobre o assunto, decidiu fazer um curso para aprender a mexer no Macintosh e começou a trabalhar como professor na escola em que havia estudado. Pouco mais tarde, ele abria uma escola de informática e, em seguida, ingressava na faculdade de administração. "Eu tinha uma pilha de carteiras do INSS e não fazia a menor ideia do que fazer com aquilo. Eu levava para a aula de RH e fazia uma aula prática com as professoras", disse.

Depois de dois anos tocando a escola, Aliperti decidiu fechar as portas. Percebeu que queria mesmo entrar para o negócio da família. "Eles exigiam que eu tivesse pelo menos cinco anos de experiência profissional em uma grande empresa antes de começar a trabalhar lá." Em vez de cinco, o empreendedor passou dez anos trabalhando no mercado financeiro até integrar a equipe da siderúrgica. "O sonho virou pesadelo rapidinho. Trabalhar com família nem sempre é fácil."

"O que eu percebi", afirma Aliperti, "é que eu não devia ter aberto mão do que havia construído lá atrás. Quando cheguei ao pote de ouro, à empresa da familia, percebi que o bacana não era chegar lá, mas a jornada." O caminho dele se enveredou pela área da educação de novo, por causa da mesma escola em que se formou, onde era conselheiro. Em 2013, ele fundou a Kidu, uma ferramenta que muda a dinâmica do aprendizado em sala de aula. "Acho que o meu maior desafio foi interno porque, durante todo esse tempo, eu resisti à vontade que tinha de empreender."

Teimosia, antes de tudo

Para Romero Rodrigues, todo empreendedor precisa ter consistência e resiliência. "Mas seus amigos e sua família só vão chamar de resiliência mais para a frente, porque, no começo, eles chamam de teimosia", afirmou o empreendedor. "Você vai ser teimoso anos a fio até ser resiliente."

O empreendedor conta que os maiores desafios do Buscapé estavam no mercado e no modelo de negócio. Para sustentar a plataforma, seus fundadores contavam com o seguinte plano:

Divulgar os preços - atrair alguns consumidores - chamar a atenção das grandes redes, que pagariam para ter destaque - usar o dinheiro para investir em publicidade - atrair mais consumidores...

Só que não é sempre que o plano dá certo. Logo no terceiro dia do site no ar, Rodrigues recebeu uma ligação de uma grande varejista. "Para a nossa surpresa, eles não queriam anunciar, mas processar a gente. Daí tudo desmontou porque a roda tinha começado a girar num sentido anti-horário. Eles queriam um dinheiro que a gente não tinha", disse.

Demorou três anos para o Buscapé cobrar pela primeira vez por uma posição de destaque de uma empresa. Até então, afirma Rodrigues, houve vários momentos em que a empresa quase morreu, inclusive quando o negócio já era grande. "Mas a gente nunca perdeu o sonho. Sempre ressussitamos a empresa. Com muita teimosia, ressussitávamos sempre." 

Sem medo

Em sua segunda geração (Arthur Rufino é um dos filhos do fundador, Geraldo Rufino), a JRDiesel é lider em desmanche de caminhões no Brasil. Por um bom tempo a partir de sua fundação, em 1985, o principal desafio da empresa era vender peças de veículos desmontados, provando que o negócio era legal. "Foi algo que só conseguimos depois de alguns anos no mercado. Conseguimos construir uma boa imagem, tínhamos uma metodologia de trabalho, vendíamos nossa qualidade, atendimento e seriedade", diz Rufino. Em meados de 2003, quando a empresa já estava bem estruturada, com 200 funcionários, veio a notícia de um projeto de lei que queria proibir o setor de desmanche de veículos. "Eles entendiam que a existência do segmento fomentava o crime."

Em vez de seguir o mercado e passar a atuar no mercado de peças novas, a família Rufino decidiu insistir no negócio. A solução da JRDiesel foi convencer o governo de que o projeto de lei não era o meio mais eficiente para combater o crime. Além disso, os empreendedores prepararam um discurso de encantamento para mudar a imagem do setor. "Passamos a mostrar que éramos uma alternativa ecológica. Quando você compra uma peça usada, você evita a produção de gás carbônico com a fabricação de uma nova."

Rufino conta que a família passou a procurar sempre a secretaria de segurança pública para mostrar casos de desmanche que tinham dado muito certo em outros países. "Nós mostrávamos que o projeto de lei só faria com que as empresas que agiam certo se tornassem ilegais. Não evitaria o mercado ilegal", diz o empreendedor. Em nove meses, a JRDiesel conseguiu a sanção do projeto de lei. 

Segundo o diretor, a ameça foi encarada como uma oportunidade. "Aproveitamos aquele momento para organizar toda a empresa, para deixar tudo certinho. Nao tivemos medo do que vinha pela frente."