• Luciana Galastri
Atualizado em
  (Foto: wikimedia commons)

(Foto: wikimedia commons)

Aconteceu: o mundo foi apresentado, há poucos dias, ao seu primeiro caso documentado de vício em Google Glass. O registro, publicado em PDF, dá conta de um militar do exército dos EUA, de 31 anos, que demonstrou irritabilidade e frustração ao ter que tirar o Glass para um tratamento contra alcoolismo. Ele usava o Glass por até 18 horas por dia e provavelmente se tornou um viciado na mesma medida em que muitos de nós somos viciados nos nossos celulares, por exemplo.

A parte estranha é que o paciente documentado também demonstrou alguns "bugs" de percepção relacionadas ao uso intenso do Glass. Por exempo: ele disse que, quando sonhava, o via o mundo do sonho - como via o mundo da vida real - através de uma janelinha cinza, como a lente do Glass. Quando o examinador fazia perguntas, ele levava o dedo à têmpora e a tocava, como se estivesse apertando o botão de ligar do Glass, que aquela altura já não estava mais ali.

Alguma vez da sua vida você estava lendo um livro de papel teve um ímpeto de buscar um termo com um Ctrl+F? Ou então tentou aumentar uma imagem em uma tela que você sabia que não tinha touchscreen usando os dedos? Mais especificamente, já jogou tanto videogame que teve ímpetos de repetir comandos dos jogos na vida real depois que o game acabou? Todos esses cacoetes fazem parte do mesmo fenômeno experimentado pelo militar analisado pelo estudo. Conhecido como Game Transfer Phenomena, trata-se de um problema de percepção que afeta gamers e faz com que eles levem hábitos dos jogos e do digital para a vida real. Como o fenômeno ainda não foi estudado  fundo, por enquanto o que se sabe é que ele não passa de um bug do cérebro, mas nada muito grave.

Em um campo de comentários em um post do Kotaku sobre o tema, muitos usuários relatam esse fenômeno acontecendo com outras interfaces e comportamentos automáticos, que frequentemente são transportados para contextos em que não fazem sentido. Comigo, acontece quando eu pego o Bilhete Único para abrir a porta de casa, por exemplo. Eu não diria que sou viciada no Bilhete Único, no entanto, mas que é uma atividade bastante impregnada na minha rotina - abrir uma passagem usando o cartão - e que esse gesto tenha se projetado num contexto em que ele não se aplica de maneira automática pelo meu cérebro em um dia de cansaço.

(via Intelligencer)