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Não pense só na previdência privada – modalidade pode não ser tão rentável (Foto: Reprodução/Pixabay)

O bancário Ygor Kauling, de 21 anos, poupa cerca de 10% do salário, todo mês, pensando lá na frente. Não quer ficar dependente unicamente do benefício de aposentadoria concedido pelo INSS a pessoas que, como ele, têm emprego com carteira e contribuem com a Previdência Social:

— Tendo em vista a situação econômica do país, é de bom tom me prevenir quanto o que pode acontecer.

O jovem bancário é o que os educadores financeiros consideram um exemplo a ser seguido quando o assunto é poupar para a velhice, pois quanto mais cedo essa poupança for iniciada, menor será o esforço mensal necessário para acumular uma quantia significativa para a velhice e mais ela irá render, devido ao que chamam de “poder dos juros sobre os juros”.

— O poder dos juros sobre os juros são incríveis. Como você vai ganhando juros sobre juros ao longo dos anos, esse montante vai crescendo muito. Mas, infelizmente, eu vejo as pessoas me procurarem preocupadas em poupar depois dos 50 anos de idade. Daí, têm de guardar todo mês valores astronômicos, o que inviabiliza muitas previdências complementares. Quem começa a poupar desde cedo, mesmo que os valores sejam baixos, vai se beneficiar dos juros sobre os juros — explica a planejadora financeira Letícia Camargo.

Poupar para a velhice para além do benefício pago pelo INSS ganhou urgência ainda maior, na avaliação dos especialistas, diante da proposta de reforma da Previdência que tramita no Congresso, que se aprovada levará os brasileiros a terem de trabalhar mais tempo para se aposentar e diminuirá a taxa de reposição salarial, em relação as regras atuais.

Para Michael Viriato, coordenador do laboratório de finanças do Insper, há três questões básicas que devem ser consideradas num investimento em longo prazo: definir por quanto tempo vai se poupar (se por dez, 20, 30 anos), quanto será poupado por mês e as taxas de rendimento de cada um dos produtos disponíveis para aplicação do dinheiro.

Por exemplo, uma pessoa que investirá R$ 100 mensais por 30 anos em uma aplicação como o CDI, que tem rendimento atual de 10% ao ano, vai acumular, ao final desse período, cerca de R$ 206 mil, se tivesse poupado R$ 500 por mês, a poupança seria de R$ 1 milhão em 30 anos.

Com a alta dos juros dos últimos anos, mais pessoas abandonaram a caderneta de poupança e migraram para aplicações que se beneficiam da taxa básica Selic, que hoje ainda é alta, de 10,25% ao ano, e que possuem a mesma segurança que a caderneta, como o CDI (Certificado de Depósito Interbancário).

— A grande questão é ter disciplina, começar a poupar o quanto antes e não interromper a poupança na metade do caminho, sacando o dinheiro para outra finalidade — ressalta o especialista do Insper.

O economista Samy Dana, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e autor de livros sobre finanças e negócios lembra que há famílias que, devido ao baixo rendimento, não têm condições de poupar outras estão passando por alguma fase que dificulta essa economia, como a chegada de filhos.

— Há fases financeiras complicadas na vida, como de um casal que acabou de concluir faculdade e ter filhos. Não vai conseguir poupar. Mas pessoas que ganham R$ 4 mil ou mais e não estão passando por problemas de saúde devem poupar e essa reserva pode ser qualquer tipo de investimento: tesouro direto, CDB de bancos e alguns fundos de investimentos com taxas baixas. Uma previdência privada pode não ser o melhor investimento porque as taxas cobradas pelos bancos são muito altas, então o benefício fiscal é engolido por elas. A grande exceção da previdência privada é quando você tem contrapartida da empresa, daí acaba compensando a cobrança de taxas — aconselha o economista Samy Dana, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e autor de livros sobre finanças e negócios.

Para Letícia, hoje, o melhor investimento é o Tesouro IPCA, pois são títulos com baixíssimo risco e retorno real elevado e garantido. No ato da compra, você contrata um retorno fixo (taxa de compra) mais um percentual variável e pós-fixado, que é justamente a inflação (IPCA). Ninguém pode garantir qual será a inflação futura, mas ao comprar um título desse tipo o investidor garante tal inflação mais uma taxa conhecida. Ou seja, há um ganho real, acima da inflação.

Apesar de desaconselhada por educadores financeiros, a previdência privada segue em alta e a captalão dos fundo segue crescendo. A carteira da BrasilPrev atingiu 2 milhões de clientes e cresceu 6% em 2016, em relação ao ano anterior. Já o volume total de recurso administrados deu um salto de 32% em março deste ano, frente ao total da carteira registrado no mesmo mês do ano passado.

A Porto Seguro administra hoje cerca de R$ 4,2 bilhões em ativos financeiros de cerca de 140 mil brasileiros que poupam para a velhice. A reserva média cresceu mais de 20% na comparação entre os primeiros trimestres de 2017 e 2016.

Na maior parte dos planos de previdência privada disponíveis no mercado, o beneficiário faz aportes mensais e, a partir de uma determinada data, passa a receber um valor preestabelecido na contratação do plano.

Esses planos são uma boa opção tanto para os trabalhadores autônomos como para quem tem renda acima do teto do INSS (hoje em R$ 5.189,82) e quer manter seu padrão de vida depois da aposentadoria. Mas se o contratante tiver um problema de saúde antes do prazo definido para começar a receber o benefício, não terá cobertura.

E só receberá o auxílio-doença previsto pelo sistema público se contribuir para o INSS. Apenas quem recolhe a contribuição ao INSS tem direito a outros benefícios da Previdência oficial, como auxílio-doença e licença-maternidade.

Marcelo Picanço é Diretor Geral de Negócios Financeiros da Porto Seguro diz que, no caso da seguradora, a taxa de carregamento só é cobrada caso o investimento seja feito em curto prazo, justamente para incentivar que sa poupança seja feita por um longo período de tempo. Nenhum tipo de plano tem cobrança de taxa de carregamento para resgate dos recursos após cinco anos.

Aquiles Mosca, presidente do Comitê de Educação de Investidores da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA), conta que a entidade realizou uma pesquisa para identificar como os brasileiros se relacionam com o dinheiro, e que ficou bastante evidente que esta questão se assemelha muito com a forma como cada um lida com a vida:

— Lidar com o dinheiro é mais um aspecto da vida da pessoa, de como ela lida com a própria vida. E acaba tendo consequência em como ela lida com o dinheiro. Por exemplo despreocupado vai levando dia a dia, muito otimista, quando pensa na possibilidade de ter um problema no futuro, pensa que mais na frente ele vai dar um jeito, e assim lida com o dinheiro também e acaba não ficando preparado financeiramente para emergências e ficar em uma situação bastante precária. No outro extremo tem o planejador, que faz a lição de casa, recebe sua renda, adapta ela a uma realidade para poder poupar e desenha uma curva ascendente de patrimômio.