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Conheça a história de Mate Pencz e Florian Hagenbuch, da Printi (Foto: Reprodução/Endeavor)

Conheça a história de Mate Pencz e Florian Hagenbuch, da Printi (Foto: Reprodução/Endeavor)

Dizer que o Brasil oferece inúmeras oportunidades é chover no molhado. Mesmo em tempos mais turbulentos – ou talvez principalmente nesses tempos –, um país continental como o nosso não deixa de proporcionar chances preciosas a empreendedores que se mantêm alertas.

Mas, entre aqueles que chegam lá e os que ficam para trás, há um sonho grande, muita preparação e um caminho árduo. É o que mostram os protagonistas desta história. Assim como tantos outros da mesma geração, Mate Pencz e Florian Hagenbuch se formaram em universidades de ponta, e logo conseguiram empregos em grandes corporações do mercado financeiro. Daí em diante, o caminho era mais do que conhecido: trabalho, viagens, trabalho, promoções, mais trabalho, e por aí vai.

Não demorou muito para que os dois concluíssem que não era bem essa vida que queriam levar. Vieram parar em São Paulo, onde montaram a primeira gráfica online do país a oferecer produtos de alta qualidade com preços competitivos.

Mas para que você entenda melhor o que está por trás dessa reviravolta, é preciso retroceder um par de décadas e atravessar alguns milhares de quilômetros, até o continente europeu. Alemanha, década de 90: é lá que essa história começa.

Tão próximos, tão distantes

Logo após a queda do muro de Berlim, a família Pencz deixava a Hungria para se instalar em Stuttgart, numa Alemanha recém unificada. O engenheiro Josef, pai de Mate, havia recebido uma oferta de trabalho no país, e lá morou o garoto durante sua infância e adolescência.

Florian estava a poucos quilômetros dali: Stuttgart era também a cidade natal da família Hagenbuch. Os dois tinham praticamente a mesma idade e, caso o destino quisesse, poderiam ter se tornado melhores amigos logo ali. Mas Kai Hagenbuch, executivo de uma multinacional alemã do mercado gráfico, fora transferido para o Brasil, e levou junto seu filho. Enquanto Mate estava chegando, Florian estava de saída para viver em terras tupiniquins.

Dos 4 aos 18 anos, estiveram a um oceano de distância. Enquanto Florian ganhava, sem saber, experiências determinantes para seu futuro empreendedor, Mate também crescia no velho mundo. Tornava-se um rapaz de olhar confiante e sereno – um curioso contraste com a inquietude e o espírito aventureiro que já o marcavam. Desde cedo independente, ele viajou muito, sobretudo ao longo dos últimos anos do ensino médio, por conta de competições esportivas. Japão, Nova Zelândia, Inglaterra foram apenas alguns dos países pelos quais passou na época.

Acabou por atracar em Boston, na Universidade de Harvard, onde cursou economia. Florian, por sua vez, estava de novo a poucas horas de distância – na Universidade da Pensilvânia, onde cursava Finanças e Relações Internacionais em Wharton.

Mas foi só no verão de 2008 que os dois finalmente se conheceram. O encontro aconteceu durante um summer internship – um estágio de curta duração em um grande banco norte-americano. Mate e Florian logo descobriram afinidades que iam além das carreiras e das origens – a principal delas, sem dúvida, era a ambição de fazer mais. O encontro se repetiu no ano seguinte, quando os dois se encontraram em Londres para um novo summer job.

O primeiro plano: de fuga

Em 2010, já formados, os dois partiram definitivamente para a capital inglesa. Conseguiram empregos em grandes instituições do mercado financeiro e resolveram montar uma república. E, ainda que trabalhassem por quase cem horas semanais, arranjavam tempo para compartilhar as impressões – quase sempre desanimadas – sobre a vida profissional que acabara de começar.

As conversas costumavam acontecer a partir da meia-noite, quando Mate e Florian chegavam do trabalho. Abriam uma cerveja e, pouco depois, os corações: o que mais os incomodava era a sensação de que poderiam fazer muito mais do que vinham fazendo. “A gente se sentia subaproveitado”, revela Mate.

Conhecer as próximas etapas também não ajudava em nada. Sabiam que, se continuassem fazendo tudo certinho, seriam promovidos, até chegarem a sócios da empresa; e isso afastava qualquer emoção do caminho. Deixava-o previsível e entediante. Era tudo o que não queriam.

“Saber quais eram os próximos passos era desconfortável, e foi naquela época que começamos a experimentar com essa ideia de empreender”, diz Mate, com um leve brilho nos olhos, “de trilhar nossa própria vida”.

Afinal, por bem encaminhadas que estivessem as carreiras, e por sedutores que fossem os motivos para permanecerem nelas, o desconforto falava mais alto. Florian compartilhava do desejo de aventuras de Mate, e também sonhava com desafios maiores.

Onde as oportunidades estão de braços abertos

De que aquele não era o caminho, os dois logo tiveram certeza. Empreender era a saída. Mas, para onde ir? “Para algum país emergente”, afirmavam convictos. Ambos já haviam tido experiências de longa duração na China, em Cingapura e em outros países da Ásia, e concordavam quanto às oportunidades criadas por economias em desenvolvimento.

Foi quando Florian propôs que considerassem o país em que crescera, e do qual guardava ótimas lembranças. Além disso, o ano era 2012; não custa lembrar que, como eles própriosafirmam, naquela época “o Brasil estava bombando na percepção do exterior”. Mantendo a sinergia, os dois concordaram que aqui seria um destino promissor para empreender.

Para Mate, só faltava um (pequeno) detalhe: conhecer o país. Ele só ouvia o amigo falar daqui. Então, pouco antes de se demitir do banco em que trabalhava em Londres, fez uma rápida viagem para sondar o mercado. Completou a marca de 35 reuniões em uma semana e voltou muito bem impressionado com a receptividade local. Aí, não restaram dúvidas: era para cá que os dois viriam.

Colchão no chão e confiança dos investidores

Por ter se desligado do emprego um pouco antes de Florian, Mate chegou sozinho por aqui. Instalou-se em um casarão com outros “dez caras” – a maioria de estrangeiros que também chegavam ao Brasil para empreender. “Eu ficava no terceiro andar, e nem era um quarto. Era um colchãozinho no chão, com mais três ou quatro gringos em volta”.

Na época, muita gente de fora também queria investir no país. Mate não perdeu tempo: montou um arquivo de Powerpoint com oito páginas e, após uma rodada de investimentos que durou só uma semana, levantou cerca de 1,5 milhão de dólares.

Tudo aconteceu com base na rede de contatos e nas reputações exemplares de Mate e Florian. E com uma condição: que os dois se dedicassem integralmente ao empreendimento.

Uma lacuna do tamanho da Printi

Ao mesmo tempo, os futuros empreendedores trocavam ideias com Kai, pai de Florian. Profundo conhecedor da indústria gráfica brasileira, ele emitia opiniões de um lugar privilegiado: o de alguém que sabia o quanto esse setor poderia se desenvolver por aqui.

“É um mercado imenso e pulverizado”, afirmava Kai. “Mas, em termos de tecnologia e inovação, ainda precisa avançar muito”. Ele se referia sobretudo a questões como e-commerce de produtos gráficos, que já avançava em outros países.

Quando realizaram suas pesquisas, Mate e Florian constataram que, embora gráficas de grande porte dessem conta de atender empresas do mesmo tamanho, o atendimento a pequenas e médias demandas não era lá essas coisas. Na verdade, era bem deficitário, no geral, já que ficava a cargo de gráficas menores, que muitas vezes não tinham muito compromisso com a qualidade.

Foi exatamente nesta lacuna que resolveram atuar. Combinando inovação tecnológica a produtos de alta qualidade, decidiram atender às fatias de mercado que, consideravam, não eram bem atendidas. Foi então que se materializou a ousadia desses dois estrangeiros de 24 anos: a Printi.

Um plano maior

O ano ainda era 2012, e as coisas, bem diferentes do que são hoje. No começo, a Printi só atendia empresas e não tinha produção própria – trabalhava com a terceirização de todos os produtos que oferecia em sua plataforma online.

Mas não demorou para que Mate e Florian percebessem que seria possível ir ainda mais longe. Seria preciso ajustar algumas coordenadas. A primeira decisão foi fazer uma expansão horizontal – ou seja, diversificar; ampliar a linha de produtos oferecidos e o atendimento: pessoas físicas também passaram a ser atendidas.

Não importava se fossem dez mil cartazes para o Subway ou duzentos cartões de visita para uma psicóloga: a Printi garantia a produção, o preço competitivo e, mais importante, a distribuição. Isso porque, desde o começo, os amigos – agora sócios – traçaram o plano de atender o país inteiro. Montaram um esquema de distribuição com operadores de logística, e colocaram mais esse plano em prática.

O desafio da verticalização

A expansão vertical, por sua vez, aconteceu pouco depois e constituiu um dos grandes desafios enfrentados pela Printi. “A gente suou bastante”, afirma Mate.

A decisão foi tomada em um período de muitos conflitos com os fornecedores. Problemas nos prazos de entrega e no acabamento dos produtos, que muitas vezes tinham que ser trocados, foram azedando a relação. “Na época, éramos 30 pessoas em um escritório, terceirizando tudo. E achávamos que a cultura dos parceiros iria mudar, que o compromisso mudaria”. Não foi bem assim. Por isso, tiveram que elaborar mais um plano – este, bem expresso: o de montar uma fábrica própria.

Só que, durante o processo, a burocracia os pegou de surpresa e em cheio. Todo o equipamento era importado, e os dois não tinham ideia da dificuldade de se liberar uma impressora no Porto de Santos, por exemplo.

“Conseguir o radar [habilitação para importar] para as máquinas, achar um despachante que ajudasse a trazê-las para a fábrica, lidar com a Receita Federal… foram muitas complexidades”, lamentam. Em cada departamento se dança uma música, e isso espantou os empreendedores. “O desafio de montar um negócio aqui no Brasil é isso: descobrir como as coisas funcionam”.

Mas, no final, o sacrifício da verticalização valeu a pena. Hoje, o impressionante maquinário da Printi ocupa um gigantesco galpão na Vila Leopoldina, em São Paulo, e dá conta de 80% dos pedidos que chegam à empresa. Do manuseio à distribuição, tudo é realizado ali dentro, sob o comando atento de Mate e Florian.

A barreira cultural

Por mais que os planos andassem bem, outros desafios foram surgindo. Talvez o maior deles fosse o de comportamento – não só de fornecedores, mas de consumidores também.

Afinal, Mate e Florian estavam investindo em uma área que funcionava da mesma forma fazia muito tempo. Os clientes menores, acostumados à relação pessoal com as gráficas locais, olhavam com desconfiança para o modelo de e-commerce proposto pela Printi. Os vícios de comportamento eram antigos. Não foi nada fácil quebrar a rebentação de certos paradigmas de um mercado que estava adaptado à ineficiência de toda uma cadeia.

“Essa mudança do comportamento dos consumidores foi um desafio constante”, confessa Mate. A saída foi investir continuamente em marketing e em branding – e contar com alguns importantes fatores “extra-campo”. O principal, por incrível que pareça, é a crise atual.

A crise bem-vinda

O aperto financeiro vem forçando o mercado a mudar de percepção: cada vez mais gente está trocando a gráfica da rua de baixo pelo modelo (e pelos preços mais competitivos) da Printi. Mate acompanha o movimento com muito otimismo: “todo mundo está querendo fazer mais com menos. A crise está tirando muita gente da zona de conforto”.

E ele não se refere só aos clientes menores. Grandes corporações também estão experimentando a Printi, já que, com orçamentos mais enxutos, as tiragens de impressões também caem. “Se antes a pessoa fazia um milhão de flyers, hoje faz 50, 100 mil. E é mais provável que essa tiragem caia no nosso colo, em vez de ir para as grandes gráficas”.

Para o futuro? Planos, é claro!

Depois de quase quatro anos de Brasil, Mate e Florian ficaram cascudos. Hoje com 29 anos, eles têm seus nomes estampados na lista da Forbes de 30 empreendedores de destaque com menos de 30 anos de idade. Longe das famílias, que estão na Alemanha, os dois se adaptaram ao modus operandi de fazer negócios por aqui – mas sem deixar de lado o propósito de, aos poucos, transformar esse modus, torná-lo mais transparente por meio da inovação.

Os números comprovam que a aposta vem dando certo. Com 130 funcionários e previsão de faturamento de 50 milhões de reais em 2016, a Printi vem crescendo a um ritmo acima de 100%, todos os anos. Mas, para eles, isto é só o começo.

Sempre em sinergia, os dois acreditam que ainda há um mercado gigante a ser aproveitado, o que vai levar a novas expansões, tanto verticais quanto horizontais. Já existe até um projeto para dobrar o tamanho da fábrica.

Mas a contribuição de Mate e Florian para o empreendedorismo brasileiro extrapola os limites até da própria empresa – o que não é de se estranhar, já que limite nunca foi muito a praia dos dois. Empreendedores Endeavor desde 2014 e empenhados em criar um ciclo virtuoso capaz de desenvolver o país por meio da tecnologia, eles ainda mentoram e investem em startups próximos a essa causa.

De sonho grande em sonho grande, Mate e Florian vão elaborando os planos para chegarem lá. O maior de todos, sem dúvida, é o de continuar quebrando paradigmas, experimentando o novo. E para isso, ainda resta um mundo inteiro de oportunidades.

Publicado em Endeavor Brasil.