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29/04/2016 08h23 - Atualizado em 29/04/2016 08h28

Após cirurgia nos EUA, menina brasileira de 2 anos enxerga a mãe pela 1ª vez

Nicolly Pereira nasceu cega e quase surda; após sete cirurgias malsucedidas no Brasil, seus pais a levaram para Miami para mais uma tentativa.

Rafael BarifouseDa BBC

"Você está vendo". Daiana Pereira, mãe da pequena Nicolly, esperou dois anos para poder dizer estas palavras. E em março, após a filha passar por uma cirurgia em Miami, nos Estados Unidos, ela finalmente pôde dizê-las. Assista ao vídeo.

Daiana e Nicolly após a cirurgia nos EUA (Foto: Andrei Iglesias)Daiana e Nicolly após a cirurgia nos EUA (Foto: Andrei Iglesias)

Quando Nicolly nasceu, seu pai notou algo estranho. Durante os dois primeiros dias de vida, ela manteve os olhos fechados, algo incomum entre recém-nascidos. Em uma madrugada, quando ela finalmente os abriu, Daiana, de 26 anos, teve a certeza de que havia um problema.

"Seus olhos estavam inteiramente brancos. O oftalmologista diagnosticou um glaucoma e uma opacidade da córnea", conta a mãe à BBC Brasil.

"Não conhecia a doença nem tinha noção da gravidade da situação. Só queria que ela enxergasse."

Nicolly não enxergava por causa de um glaucoma e de uma opacidade da córnea  (Foto: Arquivo pessoal/BBC)Nicolly não enxergava por causa de um glaucoma e de uma opacidade da córnea (Foto: Arquivo pessoal/BBC)

Ao longo de apenas dois anos, Nicolly passou por ao menos três hospitais em Santa Catarina, onde a família morava, e São Paulo, e fez sete cirurgias para tentar corrigir o problema, sem sucesso.

Os médicos haviam indicado que não seria mais possível operá-la por causa das cicatrizes resultantes dos procedimentos aos quais ela já tinha sido submetida. Havia o risco de a criança perder os olhos caso fosse de novo para a mesa de cirurgia.

Após postar uma mensagem em um grupo no Facebook pedindo orações para a filha, Daiana passou a receber mensagens de pessoas que queriam ajudá-la. Uma delas morava nos EUA e passou a procurar hospitais no país que aceitassem o caso. Foram quatro recusas até uma médica de Miami topar tratá-la.

"Depois, ela contou que, ao ver a Nicolly, achou que tinha cometido um erro e não fosse possível operá-la", diz Daiana.

Campanha
Para ir aos Estados Unidos, a família lançou uma campanha online para arrecadar os US$ 17,5 mil (R$ 61,3 mil) necessários para a internação – a médica aceitou fazer a operação de graça.

Após dez dias e com uma ajuda substancial de um casal de filantropos americanos, a meta havia sido atingida.

Mas, uma vez em Miami, um outro médico diagnosticou que a menina também era surda: seus ouvidos estavam obstruídos por líquido.

'O impossível não existe. É uma questão de acreditar', diz a mãe de Nicolly  (Foto: Arquivo pessoal/BBC)'O impossível não existe. É uma questão de acreditar', diz a mãe de Nicolly (Foto: Arquivo pessoal/BBC)

"Percebíamos que era preciso colocar tudo no volume máximo para que ela pudesse ouvir, mas a correria era tanta por causa do seu problema de visão que ainda não havíamos conseguimos parar para fazer os exames de audição", conta a mãe.

Em 17 de março, Nicolly passou por duas cirurgias para corrigir a surdez e a cegueira. Havia a possibilidade de ela precisar de uma nova operação, mas sua recuperação foi tão boa que isso não foi necessário.

O momento em que as bandanas foram retiradas e Nicolly ouve e vê sua mãe pela primeira vez foram registrados em vídeo pela amiga que ajudou a família nos Estados Unidos.

"Sou uma pessoa contida, não choro na frente das pessoas, mas, naquele momento, não consegui me segurar. Fui tomada por uma sensação de leveza, por uma vontade de gritar: 'A gente conseguiu!'", diz Daiana.

Nos EUA, médicos também diagnosticaram que Nicolly era surda  (Foto: Arquivo pessoal/BBC)Nos EUA, médicos também diagnosticaram que Nicolly era surda (Foto: Arquivo pessoal/BBC)

"Todas as portas se fechavam quando o caso dela era analisado, mas a Nicolly mostra que o impossível não existe. É uma questão de acreditar e lutar por isso. Agora, um médico brasileiro será treinado para trazer a tecnologia usada no caso da minha filha para cá e, assim, ajudar outras crianças."

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