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Polícia

CV tem ramificações no Nordeste e Centro Oeste, diz especialista

11 dez 2010 - 07h30
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A tomada do Complexo do Alemão pelas forças de segurança do Rio de Janeiro representou um duro golpe nas finanças e na estrutura do Comando Vermelho (CV), mas está longe de significar o fim da facção. Segundo o jornalista Carlos Amorim, autor do livro Comando Vermelho - A história secreta do crime organizado e considerado um dos maiores conhecedores do assunto, o CV é uma organização criminosa nacional com braços em vários estados brasileiros.

Pichação com as iniciais da facção Comando Vermelho no Complexo do Alemão no Rio
Pichação com as iniciais da facção Comando Vermelho no Complexo do Alemão no Rio
Foto: Hermano Freitas / Terra

"O Comando Vermelho é influente em várias áreas do tráfico no Nordeste, na região do polígono da maconha, onde existem muitas plantações que atingem vários estados e manteve suas relações tradicionais entre o Mato Grosso do Sul e as áreas de fronteira onde ele é comparador atacadista de drogas. Já no Sul do País, o PCC (Primeiro Comando da Capital) é mais influente", diz o autor.

A facção serviu de base e ajudou a estruturar organizações criminosas como o PCC, em São Paulo, a Organização Plataforma Armada (OPA), na Bahia, e o Comando Vermelho Nordeste (CVN), que atuam em sociedade, principalmente, no comércio de drogas, explica Carlos Amorim.

A Secretaria de Segurança Pública da Bahia afirma que as rodovias tiveram reforço de patrulhamento desde o início das operações no Rio de Janeiro. A Polícia está em contato com o serviço de inteligência do Rio de Janeiro para buscar pistas sobre uma possível fuga de criminosos do Comando Vermelho para o Estado. Até agora, não existem evidências disso.

No Rio Grande do Sul, o número de denúncias sobre a presença de criminosos cariocas em Porto Alegre e na região metropolitana é grande, mas segundo o Chefe do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC), Ranolfo Vieira, também não há confirmação. "A única ligação concreta que tivemos foi com o traficante Nei Machado (gaúcho considerado o braço direito de Fernandinho Beira-Mar), preso na Colômbia, que tinha ligações com Fernandinho Beira-Mar".

Segundo informações da Polícia Civil do Rio de Janeiro, os criminosos estariam migrando para morros onde não existem Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e para a região metropolitana da cidade, mais especificamente para o município de São Gonçalo. O coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Rio de Janeiro, Claudio Varela, diz que as unidades do interior estão em alerta para possíveis atividades criminosas de bandidos do Comando Vermelho.

Amorim diz que é possível que integrantes do CV tenham fugido para outras cidades onde a facção possui relações, mas acredita que algumas lideranças ainda podem estar no Complexo do Alemão. "Os setores de inteligência da Polícia diziam que existiam 600 traficantes armados no morro do Alemão, eles desapareceram, não porque foram para algum lugar específico, eles desapareceram no meio de meio milhão de moradores, essas pessoas nasceram ali, eles não vieram de fora, eles tem família, parentes e amigos naquele local. Então ele esconde a arma, a droga, coloca uma camiseta, um chinelo e sai. Eles não desapareceram, se misturaram com a população e pronto", afirma.

União das facções

Amorim diz que a união do CV com o PCC não é recente, nem inesperada. "O PCC foi criado em 1993, inspirado no Comando Vermelho. As regras internas do PCC, o próprio lema da organização: 'Paz, Justiça e Liberdade', é o mesmo do Comando Vermelho. Eles se declararam organizações aliadas e são sócios no negócio das drogas e das armas", explica. Ele diz que, em várias ocasiões, bandidos do PCC foram abrigados no Rio e vice-versa. "Isso é uma coisa antiga, não é de agora não".

Segundo o especialista, uma das consequências da ocupação do Morro do Alemão é a união do Comando Vermelho com grupos rivais."Dessa vez elas (as organizações criminosas) começaram a agir em conjunto, obviamente para aumentar o poder de resistência e para tentar reorganizar os negócios. Então, você vê o Comando Vermelho atuando em conjunto com o Terceiro Comando, uma coisa que até pouco tempo atrás era considerada impensável".

"O movimento total de drogas no Brasil é impressionante. Além de sermos um corredor de passagem de drogas para Europa, Estados Unidos e Canadá também somos o segundo maior mercado consumidor de drogas do ocidente. Estamos falando de um negócio muito grande, seria uma ilusão pensar que uma única operação policial, que prendeu cem pessoas, a maioria inocentes que já foram libertados, além de algumas armas e drogas, seria um golpe de morte nisso.... seria subestimar o problema", afirma.

Amorim diz que é difícil visualizar um horizonte sem essas organizações no Rio de Janeiro pela falta de uma política definida de segurança pública. "O fato é que nós não temos uma política de segurança, então é muito difícil de se dizer que com um único golpe vamos derrubar o tráfico, vamos pacificar o Rio de Janeiro. Eu não consigo enxergar esse horizonte tão próximo, nem tão fácil".

Carlos Amorim é jornalista há 40 anos e recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano com o livro Comando Vermelho - A história secreta do crime organizado, que vai ganhar uma nova edição, agora, pela editora Record. Ele também é autor do livro CV_PCC- A irmandade do crime e O Assalto ao Poder

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Fonte: Redação Terra
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