Em busca das origens no Japão

Este foi, sem dúvidas, o dia mais emocionante da nossa volta ao mundo e da minha vida. Meu pai aos 20 anos foi embora do Japão com o intuito de ganhar dinheiro e ajudar sua família. Ele perdeu a mãe cedo e o pai já era velhinho, então por anos ele trabalhou muito para enviar ajuda mensalmente. Ele dizia que um dia nos levaria ao Japão para conhecer nossos parentes, mas infelizmente ele veio a falecer antes disso. A única informação que eu tinha era o nome dos meus falecidos avós e a província que ele nasceu, Kumamoto. Nunca tivemos contato com nenhum parente, na verdade nem sabíamos se ainda tínhamos tios vivos por lá.

No nosso plano de volta ao mundo planejamos conhecer o Japão, claro, e quem sabe tentar encontrar um parente, o que não é fácil pois não falo japonês! Durante Tóquio nem pensamos no assunto, porém quando chegamos a Kyoto começamos a pensar. No hostel conhecemos um anjo chamado Kiko Franco. Contei minha história de vida pra ele e ele abriu seu coração e me contou a sua. Choramos e nos emocionamos juntos como se nos conhecêssemos há anos.

Stela Inkote com o tio Takeshi Murakami, de 73 anos

Esse italiano, que falava português e morou seis anos no Japão, foi a peça chave dessa história! Ele falou que iria me ajudar a encontrar o endereço do meu pai, pra ver se alguém ainda vivia lá. Acordamos cedo e Kiko nos levou até uma amiga japonesa que trabalhava na prefeitura de Otsu, e que falava português. Ela conseguiu, através dos nomes dos meus avós, achar o endereço aonde meu pai viveu quando criança. Entretanto, ela avisou que era na zona rural, de difícil acesso, no pé de uma montanha. Quase impossível chegar para quem não fala japonês, pois o povo de interior não fala nada de inglês! Nessa altura eu já estava quase desistindo, pois tínhamos apenas mais dois dias no Japão, e pelos nossos cálculos levaríamos umas 10 horas pra chegar lá… No mesmo dia, à noite, fomos passear num lago perto do hostel, e vimos uma garça no meio do lago, que estava imóvel por tanto tempo que achamos que era uma estátua.

Ficamos um tempão ali conversando, eu contando dos costumes do meu pai, até que eu falei para o Fernando: “Será que devíamos ir lá? Já pensou toda essa distância e ainda não ter ninguém, a casa ter sido vendida, sei lá…”. Já são 50 anos desde que meu pai morou lá! Então falei em voz alta: “Deus, me dá uma luz, um sinal, se tudo isso tem um propósito e se nós devemos ir, faz esse pássaro que nem sei se é uma estátua voar…”. Dito isso, o pássaro que estava quase uma hora parado, voou no mesmo instante!!! Então comecei a chorar e fomos pro hostel comprar as passagens, acordamos às 4 da manhã e começou a peregrinação, foram quase 11 horas, oito translados entre avião, trem, ônibus, até que chegamos à cidadezinha de Hitoyoshi, às 2 da tarde. Pegamos um táxi, mostramos o mapa japonês que aquela moça tinha feito pra nós, e o taxista foi indo. No caminho ele se perdeu e fazia movimento de negativo com a cabeça, como quem diz: não existe esse endereço.

Então achamos um pequeno posto de correio e paramos pra perguntar. A atendente pegou uma lista gigante, ligou para um número e quando eu ouvi ela dizer: “Masaki San, Brasil”, minhas pernas amoleceram, ali eu vi que tinha algum conhecido no endereço! Ela passou o endereço para o taxista e seguimos por ruas de pedra, até chegar no topo de uma montanha, um lugar de difícil acesso! Olhei pela janela e vi um homem velhinho com um guarda chuva nos esperando… (só de lembrar estou em prantos!!) Meu Deus do céu, desci e descobri que era o irmão do meu pai!!! Sim, eu tenho um tio chamado Takeshi Murakami, de 73 anos que mora ainda na casa que meu pai viveu!

Entramos, tomamos chá verde com bolinhos, mostramos fotos do meu pai, ele nos mostrou fotos e, sem falarmos nada, nos entendemos por gestos e pela língua universal: o amor!!! Vi aonde meu pai dormia, comia, brincava e plantava! Abracei tanto esse tio como se Deus estivesse me dando o direito de reencontrar meu pai, foram duas horas que valeram por mil! Ele encheu uma sacola de doces e frutas e nós fomos embora, pois o último trem da cidadezinha ia passar!

Deus cuidou de cada detalhe para que eu chegasse até lá. Colocou anjos no meu caminho para me guiar, e eu que achava que já estava conectada ao meu pai pelo fato de estar no Japão, descobri que Deus ainda tinha coisas incríveis reservadas! Espero que minha história possa inspirar as pessoas a jamais desistirem de seus sonhos! Obrigada Deus maravilhoso! Pai te amo! Tio Takeshi te amo!!!

Relato por Stela Inkote, do blog Felicidade pelo Mundo