Uma brincadeira criada durante uma madrugada de tédio pelo
estudante gaúcho Pedro Vanzella, de 19 anos, tomou proporções
inesperadas na web e pode até virar caso de Justiça.
Uma mensagem falsa sobre o lançamento de uma conta
especial do Orkut circulou nesta quinta-feira (11) na internet e
foi parar entre os tópicos mais comentados do Twitter. Chamado
de Orkut Ouro, o suposto serviço do Google não passou de uma
piada do estudante de Engenharia da Computação.
“Eram 3h da manhã e eu estava entediado. Resolvi
criar um álbum no Orkut com fotos bloqueadas, dizendo que só
poderiam ser vistas por quem tivesse o Orkut Ouro. A ideia era
provocar meus amigos, fazer com que perguntassem o que era
aquilo. Nos Estados Unidos, existem piadas com o Facebook Gold e
o 4 Chan Gold. Tinha certeza de que as pessoas iriam entender”,
disse o estudante em entrevista por telefone ao G1.
Site falso oferecia uma conta especial do Orkut. (Foto: Reprodução)
Depois de alguns comentários na rede social e no Twitter, um amigo de Pedro publicou a mensagem em seu blog. Empolgado com a brincadeira, o jovem fez o mesmo em sua página pessoal, adicionando um pedido de senha para que o suposto serviço fosse habilitado.
Mas ainda na madrugada, mais de dez pessoas levaram a piada de Pedro a sério e enviaram e-mails com os dados pessoais para o estudante. “Quando vi que as pessoas tinham levado a sério, publiquei uma mensagem dizendo que não seria necessário mandar senha. Eu não tinha nenhuma utilidade para aquelas senhas”, relatou.
Mais de cem pessoas enviaram dados
Ao longo do dia, depois que o assunto foi espalhado pela web,
Pedro recebeu mais de cem e-mails com os dados pessoais de
usuários que queriam assinar o suposto serviço. “O que é
alarmante. Se essas pessoas liberam a senha do Orkut, daqui a
pouco estão passando a do cartão de crédito. O que era uma
brincadeira acabou virando um alerta sobre segurança”, analisa
Pedro, que afirma ter apagado as mensagens. Orientado por um
advogado, à tarde o jovem publicou pedidos de desculpas no blog
e no Twitter. “Foi uma brincadeira que saiu de controle”,
afirmou.
Uma das pessoas que ajudou a divulgar a
brincadeira pela web foi o programador Rodrigo Schiafino, de 21
anos. Depois de entrar em contato com Pedro, ele criou o domínio
www.orkutouro.com.br (o
link já foi retirado do ar). Em entrevista por e-mail, Rodrigo
disse que só quis levar a brincadeira adiante. “Nunca imaginava
que a brincadeira pudesse ir tão longe”, disse.
Depois da repercussão na web, Rodrigo tirou o site
do ar. “O site não pedia nenhum dado dos usuários nem solicitava
valor em dinheiro. Além disso, nenhuma forma de contato era
disponibilizada”, afirmou.
Jovens cometeram crimes, diz advogado
O diretor de comunicação do Google no Brasil, Félix Ximenes, disse por e-mail que não pode detalhar os procedimentos que estão sendo adotados pela companhia, mas que age “sempre que há violação das nossas marcas ou quando o ato oferece risco para os nossos usuários, indiferentemente se é uma brincadeira ou não”.
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Eles utilizaram a marca do Orkut indevidamente, induzindo terceiros a confusão"
De acordo com o advogado especialista em direito eletrônico Rony Vainzof, os jovens cometeram dois crimes: o de violação de marca e o de falsa identidade. “Eles utilizaram a marca do Orkut indevidamente, induzindo terceiros a confusão”, explicou em entrevista por telefone ao G1.
“Como é um crime de iniciativa privada, o próprio detentor da
marca precisa propor ação criminal se achar pertinente. Se por
meio dessa mensagem eles [os jovens] conseguiram ter acesso às
senhas e entraram em algum perfil para alguma prática, pode
caracterizar o crime de falsa identidade”, afirma Vainzof.
As penas para ambos os crimes variam de três meses
a um ano de detenção. “Normalmente, quando o crime apresenta
grave ameaça e os réus são primários, há uma opção que acaba
resultando na compra de cestas básicas ou na prestação de
serviços para a comunidade”.
Para o advogado, este caso mostra que a internet
não é um mundo sem lei. “Temos muita política de inclusão
digital como um todo, mas é necessária a educação e a
conscientização dos usuários”, afirma. “Em, razão do crescimento
desses casos, é preciso que a população tenha conhecimento dos
riscos da internet como de qualquer outro meio eletrônico”.
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Eu pensei que as pessoas iriam perceber que era mentira"
Na internet, qualquer pessoa com um CPF válido pode criar um
registro de um site. “O registro de domínio é um registro de
cunho público declaratório", explica Frederico Neves,
diretor de serviços e tecnologia do NIC.br, braço executivo do
Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). "Não é feita
nenhuma verificação se este nome infringe o direito de um
terceiro e se ele é uma palavra ofensiva. Se alguém faz uma
reclamação referente à falsidade dados do usuário, temos um
procedimento administrativo, solicitando que a pessoa envie
documentação para verificarmos”.
Algo comum de acontecer com o registro é o roubo
de documentação. “Fazemos uma verificação junto à Receita
Federal para conferir se o CPF e o CNPJ são realmente
verdadeiros e se não houve um erro de digitação”, explica. “Não
vai ser uma verificação de dados que irá impedir o mau uso do
domínio. A responsabilidade do domínio é do usuário”.
O "criador" do Orkut Ouro ainda se diz surpreso com a
reação. "Eu pensei que as pessoas iriam perceber que era
mentira. Nenhuma empresa pede senha desse jeito. O pedido era
justamente para comprovar que era piada. Tudo era piada: o álbum
no Orkut, a mensagem no blog, os tweets. Todo mundo que me segue
no Twitter e estava passando adiante sabia que era
piada”, afirma Pedro Vanzella.
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